segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A única coisa que me separa de todo irmão é o tempo entre a iniciativa do abraço e a paz e prazer do encontro...

Libertária

Tudo que nos separa
São simples amarras
Que não podemos ver.

Fronteiras são areias
Movediças que nos cegam
E nos rasgam
No sangue irmão que todos temos.

Os muros são murros
Que nos violentam,
Erigindo os templos de nosso desespero.

O abraço liberta de todo o medo,
O abraço abre a alma cerrada,
À vida ninguém devia pôr um preço,
A vida não deve ser calada.

Amor livre... Liberdade e amor... Só é livre amando, só se ama se for livre...

(O Beijo - Gustav Klimt)


Amor Livre

O Sol é amor, a chuva e a folha,
O som é amor, o vento e a água,
A sombra é amor, a fruta e a onda,
O amor é vermelho, é branco, é mil.

A paz é amor, a liberdade é amor...
O amor é igualmente amor,
Fraternalmente amor, apaixonadamente amor.

O amor é o gesto, é ação, é alma humana
O amor salva, o amor não cala
O amor alcança, não cai, partilha.

A vitória é universalmente amor,
A humanidade é essencialmente amor,
A vida é profundamente amor.

Amor que ampara, que abraça,
Que liberta, que alimenta, que ergue,
Que presença infinita, brilha e bela,
Que livre e voa
Que é, que sou, que são,
Amor que ama,
Coração.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Barricada


Barricada

Quando as gargantas se esgotam
Das palavras não entendidas,
Quando as palavras indefesas
São usadas para o erro
E as pessoas se chocam como pedras,

As barricadas de entulho e madeira
E metais entrecruzados em muralhas
De nada servem, pois não podem
Nem devem, seperar as mentes que batalham.

Nos embates mais ferozes das idéias,
Onde os orgulhos e os sonhos se perseguem,
Há momentos em que se fecham em ataques
E só a trégua poderá reaproximar.

Nessas horas o silêncio
É a última barricada
Que sustenta para a próxima batalha
Rumo à paz um do outro.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

"Antes as paredes tinham ouvidos, hoje os ouvidos têm paredes"


A Suprema Censura

Liberdade de expressão. A liberdade de professar o que se pensa, manifestar opiniões, exprimir idéias. Mas para professar o que se pensa é imprescindível pensar, para manifestar opiniões, antes é preciso formá-las, para exprimir idéias, precisamos criá-las, refleti-las, conhecê-las, entendê-las, expandi-las, desenvolvê-las. De que serve uma “Liberdade de Expressão” para quem não tem nada a expressar? Para que expor um pensamento que não foi pensado? Manifestar é inútil sem opiniões.
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Foi-se o tempo em que a censura era concreta, visível, podia-se sentir. Mesmo que os olhos não enxergassem, mesmo que ninguém dissesse, todos sabiam, ninguém se atrevia a dizer o que não devia, pois seria escutado (e encontrado). Só era permitido dizer o que não confrontava o Sistema, à ordem estabelecida, ao poder dominante. Mas, por quê? Porque a opressão e o controle sobre todos eram explícitos e qualquer um podia ser um delator. Sempre havia alguém ouvindo, ninguém estava seguro. O perigo de ser preso e perder a vida eram constantes. “As paredes tinham ouvidos”
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Uma situação de tamanha opressão certamente não poderia ser sustentada por muito tempo, haveria rebeliões contra tal sufocamento profundo, cairiam inevitavelmente, pela insurreição dos oprimidos, os opressores. Certo? Errado, porque havia muito mais por trás da simples opressão, como sempre houve. Por trás da opressão havia (como há) todo um mecanismo, estrutura, poderio ideológico e cultural fabricado pela classe dominante para legitimar a opressão.
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Primeiro vamos situar no tempo histórico os acontecimentos. Estamos falando das inúmeras Ditaduras explícitas que existiram durante o fim do século XIX, todo o século XX e agora adentrando o nosso século XXI. Mas, antes uma pergunta deve ser feita. Qual o conceito de Ditadura? O conceito “dominante” define Ditadura como o governo/regime político que não obedece à lei e não foi conferido pela legitimidade popular.
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Porém, esse conceito é muito falho, sabe por quê? Porque, quem é que faz a lei? Os governantes. Se são eles, como podem fazer uma lei que não regularize a própria atitude? Como podem não a estar cumprindo? O Governo nunca estará contra a lei, pelo menos não em sua amplitude. Talvez uma coisinha ou outra, facilmente corrigíveis. A regra do sistema dominante nunca será transgredida por governo algum, logo, nunca estará contra a lei.
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Também podemos questionar essa “entidade maior” que é o Povo, que dá legitimidade a todos os governos e, segundo eles, tem plenos poderes de os tirarem de lá quando estes são lhe são fiéis representantes. Como pode alguém afirmar que a escolha do Povo representa realmente seu desejo se este é mantido ignorante e subserviente, controlado pelo governo e pela classe dominante? Como se pode dizer que foi uma escolha popular possuir representantes se historicamente o povo é oprimido e forçado a aceitar as vontades e imposições vindas de cima? Analogicamente à diplomacia do canhão, quando os países assinavam acordos desvantajosos sob a mira das armadas estrangeiras, existem as eleições do canhão onde severas ameaças aguardam os que se recusam a se submeterem.
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Para continuar o raciocínio, precisamos ainda de outra pergunta – Quais são os “conceitos” base do Sistema dominante? A Propriedade Privada (o dinheiro é uma representação da propriedade, portanto, uma forma de propriedade privada), o Estado Representativo (falsamente dito Democracia), o Individualismo (Egoísta) e a Liberdade (Individualista), tudo isso sustentado por uma Ordem Estabelecida, uma Estabilidade que permita a devida prática da exploração, o princípio do Sistema dominante.
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Os governos representativos, que surgiram a partir da Independência dos Estados Unidos (origem do Princípio Representativo), de acordo com o conceito que eles próprios criaram, não são nenhum deles Ditaduras, apesar de serem impositivos, onde o povo não tem poder nenhum a não ser delegar o seu poder para outrem dominá-lo. Já os governos militares que vigoraram em toda a América Latina e muitos outros países do mundo durante a segunda metade do século XX eram considerados Ditaduras (mesmo que as potências do mundo não fizessem caso disso) pelos povos que os sofreram. Por quê? Porque infringiram (explicitamente) um dos conceitos básicos – a liberdade (ainda que a idéia de liberdade seja bem limitada).
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Sim, transgrediram uma lei, mas das quatro bases ideológicas (Propriedade, Representação, Individualismo e Liberdade), tais Ditadores suprimiram apenas a última e mais superficial e ainda de forma incompleta. Liberdade no conceito dominante da palavra é sermos livres para comprarmos o que quisermos, livres para escolher entre qualquer marca, livres para irmos aonde quisermos e for seguro (e segurança já é um outro conceito dominante, pretexto para se esconder o que for preciso, como os frutos da opressão e da desigualdade – uma favela, por exemplo -, e proibir o que for conveniente. Em prol da ‘segurança’, isolam-se as áreas periféricas, excluindo-as, cercando-as pelas forças policiais e pela maquiagem urbanística em geral), liberdade para assistir o que nos satisfizer e, sem tanta importância ou uso cotidiano, liberdade para exprimirmos nosso pensamento (que pensamento?).
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Logo se vê que nas Ditaduras citadas, dentro do conceito de Liberdade, só a de expressão foi cerceada. Tal limitação incomodou muito pouco a grande parte da população rica (que era uma mínima parcela da população). Incomodou menos ainda a grande parte da população pobre, que não tinha (nem tem) a menor idéia do que é expressar-se ou ainda ter pensamentos próprios. Somente uma minúscula parcela das pessoas, que não se deixava (nem se deixa) manipular (ao menos não totalmente) pelo controle ideológico dominante é que se incomodou com a Ditadura e protestou, lutou e resistiu.
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Houve algum problema? Quase nenhum. Esses poucos facilmente foram criminalizados pela mídia corporativa (aliada íntima de todos os Governos), transformados em “terroristas”, perseguidos, presos e torturados. Após o assassinato, acho que não preciso dizer que o camarada estava silenciado, não é? E assim foi. A opressão logo silenciou os protestos e tudo voltou a tão agraciada “ordem”. Algumas mentirinhas mais, algumas dívidas contraídas, algumas vidas sacrificadas e pode-se criar conjunturas de “progresso econômico” e etc. A História é testemunha.
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Creio que agora nos situamos, todos sabem de que período se fala. O suporte da força ideológica e cultural citado é justamente os quatro pilares base do sistema dominante e, de acordo com este cenário, a opressão não era tão grande assim. A boa maioria dos ricos vivia com todo o conforto que sempre teve, continuaram a expressar suas idéias (de exploração) conservadoras, muitos até tiveram na Ditadura um momento excelente para aumentar suas fortunas. Os pobres e miseráveis viveram como sempre viveram. Não falavam antes, não passaram a falar depois. Nada mudou.
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Passaram algumas décadas e todas as Ditaduras “acabaram”. Pelo menos as Ditaduras no conceito da classe dominante. Acontece que tais regimes não acabaram porque foram tirados de lá. Eles é que, prestativamente, prepararam tudo para a volta da “Democracia Representativa” (que de democracia não tem nada). Os governos ditatoriais (uma redundância, eu sei) prepararam todo o caminho para a volta dos “democráticos”. O que foi que mudou? Nada. Apenas que os governantes militares voltaram para os bastidores enquanto seus pares civis assumiam.
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Mas, se nada mudou, porque, afinal, as Ditaduras aconteceram? Porque na época dos golpes, um percentual maior de pessoas estava começando a desmanchar as correntes ideológicas, libertando-se das prisões do pensamento e percebendo a realidade do Sistema dominante – opressão, injustiça, desigualdade, violência, miséria, destruição, ditadura. Idéias de justiça (apesar de muitas vezes distorcidas) e consciência social começavam a ter um maior alcance nas mentes populares. As pessoas abriam os olhos para os mecanismos de controle. No entanto, resultado do próprio mecanismo, a mudança da consciência social, ao invés de ser praticada de forma direta, através da participação popular para construir uma nova realidade, foi feita de forma indireta, nas eleições de governos mais engajados com as causas sociais.
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Esses governos mais sociais, apesar de terem amplo apoio popular, transgrediram a maior das leis do Sistema, confrontaram o conceito maior da ideologia dominante, a Propriedade Privada.
Tinham planos de reforma agrária (desapropriação de terras dos grandes latifúndios), estatização de indústrias fundamentais (desapropriação de meios de produção), fortes investimentos em educação (desapropriação dos eleitores, considerados propriedades dos políticos-coronéis) busca da soberania nacional (desapropriação das Nações como um todo, antes praticamente propriedades das grandes potências capitalistas, as quais ditavam [e ainda ditam] todas as regras).
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Na Argentina um golpe militar derrubou o governo populista de Perón (1955). No Brasil, Jango, que também se preocupava com as questões sociais, foi derrubado pelo golpe de 64. Algum tempo depois, no Chile, outro governo dedicado à causa popular subia, na figura de Salvador Allende e três anos depois foi derrubado pelo golpe militar, liderado por Pinochet em 1973.
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A estrutura econômica após os golpes permaneceu intacta, ou melhor, fortalecida. A exploração da população pelas grandes corporações nacionais e internacionais, detentoras do poder econômico, ampliou-se, a força do capital era total, as condições para potentes lucros eram bastante favoráveis, pois os governos militares estavam a serviço do capitalismo. Mas a maior mudança foi realmente varrer as idéias de liberdade das mentes das pessoas.
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No período “pós”-ditadura, ressurgiram os partidos de esquerda, porém com um discurso e ações totalmente harmonizadas com a ordem vigente. Nenhum questionava o sistema de Estado e queriam, inclusive, ingressar nele pela porta de entrada, as eleições, achando que podiam usá-lo para alcançar seus objetivos que, infelizmente, mostraram-se (e ainda se mostram) todos privados e gananciosos, buscando apenas o benefício das cúpulas partidárias.
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Por que esses partidos, que faziam tantas promessas sociais, foram permitidos, se, na teoria eles pareciam transgredir a lei da propriedade? Por duas razões, primeiro porque os dominantes sabiam que eles não eram ameaça real para o sistema. Não tinham visão estrutural, meramente conjuntural e simplista. E segundo porque, como aconteceu, a derrocada ideológica desses partidos desacreditou totalmente a oposição que pareceu (e era) à população farinha do mesmo saco. Dissolveram-se as forças contrárias e preservou-se o statu quo.
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Hoje não são precisos mais organismos concretos de censura, facilmente perceptíveis, apesar de que ainda existam por garantia (são as Agências de Inteligência dos Estados). Não é necessário censurar uma mídia que está totalmente nas mãos de mega-empresários e políticos (coisas que se confundem) que monopolizam os meios de comunicação para manutenção do Sistema vigente. A única grande central de inteligência restante é a CIA (Central de Inteligência Americana) responsável por monitorar e intervir, quando preciso, nos governos e atividades de todas as nações do mundo.
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Os poucos meios que contestam e expõem uma visão diferente são permitidos sem grandes preocupações, cientes que estão os governantes da impenetrabilidade de suas idéias na grande população. São muito poucos os leitores de mídias alternativas, considerados irrelevantes.
Igualmente as pessoas que hoje lutam para construir qualquer realidade diversa da existente, onde não reine a exploração, a injustiça e o sangue, são facilmente desmoralizadas e deslegitimadas com expressões popularizadas, como “radical” – aquele que fala algo inútil e irrealizável, “comunista” – como simples termo pejorativo representando aquele que questiona a ordem vigente (algo impensável por todos) e outros tantos como “ingênuo” – aquele que não conhece a realidade, ou “idealista” – o que busca um ideal inalcançável.
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Cria-se dia a dia uma blindagem mental contra qualquer idéia que transgrida a ideologia do capital. Impõem-se todos os dias em todos os ambientes, desde a família, a escola, o emprego, a universidade, os amigos, a idéia de que o capitalismo “sempre foi e sempre será”, “é o único sistema realizável”, “é a única opção”. As idéias divergentes são totalmente desvirtuadas, distorcidas e transformadas em alvos fáceis para a lógica da exploração.
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O direito de escolha só é aplicável à mercadorias, produtos, bens, propriedades, meios de gerar mais-valia, formas de gerar riquezas que se concentrarão nas mãos de poucos e acentuarão as desigualdades. Não existe o direito a escolher nem sequer o próprio caminho, no entendimento amplo, coletivo e individual da palavra. As pessoas iludem-se achando que poder virar à direita ou à esquerda na rua é uma liberdade. Não sabem que enquanto povo, coletivo, é totalmente dominado, aprisionado e explorado por forças econômicas e políticas que escolhem seu destino. Não sabem que o indivíduo é completamente controlado e programado para ser uma máquina de produzir riqueza e consumir produtos. .
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Desconhecem-se idéias como “independência” real, de espírito, e não fictícia, financeira; “autodeterminação”, que é escolher o próprio caminho por si mesmo, sem delegar para nenhum ‘representante’; “autogestão” e “cooperação”, que é a capacidade de colaborar de um grupo, de uma classe ou de um povo sem que necessariamente queiram destruir uns aos outros; “solidariedade”, que é amar ao próximo incondicionalmente e desejar profundamente a sua liberdade, sabendo que a liberdade do outro é a condição para a própria liberdade.
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“Antes as paredes tinham ouvidos, hoje os ouvidos têm paredes”. Para quê gastar consideráveis recursos e empregar ostensivas energias em todo um aparato concreto, físico de censura que, apesar de toda a eficiência, não pode estar em todo lugar e censurar a absolutamente todos, se é muito mais fácil, prático e eficiente implantar tais mecanismos de censura diretamente nas mentes das pessoas?
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Afinal de contas, o “proibido” ainda tem uma penetração forte na psique humana, que possui um instinto de transgredir o imposto. Então, por que proibir que se fale, quando é mais fácil fazer com que não se escute? 'Deixe que os contestadores se esgoelem. Nunca serão ouvidos'. Um mecanismo tão apurado e desenvolvido que se torna incrivelmente difícil de perceber, pois externamente à esse processo de censura, há um bombardeio midiático e institucional (sejam instituições formais – escola, empresa, exército, ou informais – família, grupo de amigos, etc.) pregando Liberdade de Expressão, o grande “direito do homem”.
A Suprema Censura, a autocensura, que está em todo lugar com você, que vai para onde você vai, da qual não pode escapar, porque é Você o agente da censura, da ideologia dominante. Houve verdadeiramente uma “socialização” da censura, pois o que era antes externo, agora é interno. Uma das grandes armas (mas não a única) do sistema dominante para legitimar-se, para justificar o injustificável, a dominação do homem pelo homem.
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Na falta de argumentos, na impossibilidade de argumentar com idéias lógicas que comprovem que um homem é superior a outro (nefasta mentira) e, portanto, “pode e deve” dominar outro (absurda imposição), criam-se formas de legitimar tal dominação através da negação da essência humana, invertendo a ordem e usando como justificativa a própria realidade para se justificar. O mundo é injusto porque “já era injusto”. O homem domina os outros porque “já dominava”. Os argumentos se justificam a si mesmos, "inexiste uma origem da exploração" – já que “sempre foi” -, e por conseguinte, os exploradores tornam-se onipresentes na história, sem princípio e sem fim: acham-se, portanto, verdadeiros Deuses. Método aplicável a todas as situações de injustiça e crueldade.
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O pior de todos os mecanismos de defesa do Sistema é evitar, de todas as formas, que as pessoas sequer pensem a respeito, e, se pensarem, a censura é a responsável por manter a “ordem”. É o último recurso em termos de idéias, sabe por quê? Porque como são falsos os argumentos, é preciso uma venda que impeça a visão do absurdo dos argumentos. A única forma de eles seguirem justificando o injustificável é ninguém parar para questioná-los internamente, testar suas lógicas e validades.
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Os argumentos tornam-se paradigmas acobertados por outros paradigmas. A desigualdade se torna um paradigma amparado pelo paradigma da maldade natural do homem. A dominação se torna um paradigma amparado pelo paradigma da desordem natural dos homens. O individualismo irracional se torna um paradigma amparado pelo paradigma da impossibilidade de cooperar do homem. Mentiras e mais mentiras.
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Igualmente eficiente para afastar os olhos populares é a autocensura do pensamento que desestimula as pessoas a se interessarem por política. A programação interna da indiferença e a distância aparentemente intransponível entre os acontecimentos políticos e o cotidiano do indivíduo, fazendo parecer que a política e a vida pessoal nada têm em comum, afasta as pessoas de uma área que, para a classe detentora do poder, não os diz respeito.
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Se o homem fosse naturalmente mal, incapaz de se organizar ou cooperar, nunca em tempo algum ele teria ascendido à condição de espécie predominante, superando toda o reino animal, fisicamente mais forte e desenvolvida que ele. Apenas a inteligência e a capacidade de somar a isso a força do grupo puderam elevar o homem na natureza. Somente a igualdade conseguiu unir os primeiros homens para construir um mundo melhor para eles, sem todos os perigos do ambiente selvagem. Apenas a igualdade permitiu a comunicação, a partilha das descobertas que possibilitaram os avanços humanos.
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A dominação, a desigualdade, a injustiça, e a negação feita por todos dessa realidade desumana e cruel que vivemos, precisa ser vencida. Precisamos pensar, refletir, libertar nossos pensamentos para libertarmos-nos e libertarmos a todos do jugo da exploração. Precisamos ver nossa própria censura. Precisamos nos ver, construir nosso Eu baseados em nossa Humanidade. Precisamos buscar a vida, a paz, a justiça, a liberdade. Precisamos de um novo Eu para um Novo Mundo e precisa ser feito aqui e agora, por toda parte, por todos. Comecemos por nós.

domingo, 14 de setembro de 2008

Escreva em sua laje: Aqui jaz Dinheiro...


O Dinheiro

Ao trabalho não o quero seduzir
Para o trabalho o homem não foi feito.
Mas do dinheiro não se pode prescindir!
Pelo dinheiro é preciso ter respeito!

O homem para o homem é uma caça.
Grande é a maldade no mundo inteiro.
Por isso junte bastante, mesmo com trapaça
Pois ainda maior é o amor ao dinheiro.

Com dinheiro, a você todos se apegam.
É tão benvindo como a luz do sol.
Sem dinheiro, os próprios filhos o renegam:
Você não vale mais que um caracol.

Com dinheiro não precisa baixar a cabeça!
Sem dinheiro é mais difícil a fama.
Dinheiro faz com que o melhor aconteça.
Dinheiro é verdade. Dinheiro é flama.

O que seu bem disser, pode acreditar.
Mas sem dinheiro não busque o seu mel.
Sem dinheiro ela lhe será roubada.
Somente um cão lhe será fiel.

Os homens colocam o dinheiro em grande altura.
Acima do filho de Deus, o Herdeiro.
Querendo roubar a paz de um inimigo já na sepultura
Escreva em sua laje: Aqui jaz Dinheiro.

Bertolt Brecht

--//--
Tudo é dinheiro. Você é dinheiro. A vida, o homem? Inexistem. O que há é o dinheiro.
É o que você quer ser? Cada respiro, um preço, a Vida monetarizada, a humanidade vendida e comprada.
É o que você quer? Você não quer nada, a não ser dinheiro. Ou não? Não? Pois vença!
É preciso tirar todas as etiquetas de preços coladas às nossas almas capitalizadas...
É preciso tirar todas as moedas intrínsecas aos nossos olhos, acostumados a ver em tudo um preço.
É preciso que pela Vida tenhamos maior apreço
Do que pelo valor imposto pela moeda vazia e ensanguentada...

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Uma parábola invertida da nossa crueldade.

(Para ver, maximize cada quadrinho)




Para mostrar o quanto somos brutais, cruéis e sanguinários. Porque o homem só se importa, quando muito, se ele (nós) é (somos) a(s) vítima(s). Todo o resto "circula ao seu (nosso) redor" e não tem outra serventia a não ser lhe (nos) servir. Uma parábola de uma inversão de papéis que pode também nos mostrar como somos nós os animais, os torturadores e assassinos.
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A Natureza não é nosso brinquedo. Merece respeito e veneração pela grandiosidade da obra da Criação, ao invés de ser dilacerada e deformada em nossos laboratórios e matadouros. O Homem, por este espírito de sangue que vem cultivando um dia pagará, pois esta existência desequilibrada e desarmoniosa com a Natureza cobrará um preço caro, muito caro, o qual todas as vidas humanas talvez sejam precisas para pagar.
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Somos nós os animais, no sentido que nós, pretensos dominadores, demos, de forma pejorativa, como algo ruim e desprezível. Somos nós tal criatura que a tudo escraviza para seu bel prazer. Somos nós os destruidores, somos nós os matadores, somos nós.
Somos o que? Seres humanos?... Aonde está nossa humanidade?...
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Acordai.
Sedes
realmente
seres humanos!

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Onde houver ódio, que eu leve o amor, pois é amando que se espalha o amor...


Oração de São Francisco de Assis

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida, que eu leve a ;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre,
Fazei que eu procure mais
Consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois, é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna.

--//--

Uma das orações mais belas que existe, se não for a mais bela, por expressar a fortaleza do ensinamento de Cristo de forma ativa, em uma luta constante para construir um mundo melhor, de paz, amor e humanidade.

Não podemos temer a morte na luta pela nova sociedade, pois nossa Vida é nossa única e verdadeira força e precisa ser dedicada até a última gota, o último suspiro, à causa da humanidade, à causa da própria Vida.

É a Vida que pode salvar a Vida, e assim, quando nos sacrificamos, doando nossa vida, salvamos nossa Vida. É um ciclo, a Vida retorna à Vida. Em tudo há Vida e não podemos desistir.

"É preferível morrer do que perder a vida" (Frei Tito de Alencar)
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Na morte pela luta, não morremos, vencemos! Na morte pela fuga, também não morremos, porque já estávamos mortos.

"Ao assassinato de uma criança, chama-se infanticídio, ao assassinato de muitas crianças, chama-se infantaria"


O Estado PolicialA violência “legítima”

““Todo Estado se fundamenta na força”, disse um dia Trotsky a Brest-Litovsk. Grande verdade! Se existissem apenas estruturas sociais das quais a violência estivesse ausente, o conceito de Estado teria também desaparecido e apenas subsistiria o que, no sentido próprio da palavra, se denomina “anarquia”. Por evidência, a violência não é o único instrumento de que se vale o Estado – não se tenha a respeito qualquer dúvida -, mas é o seu instrumento específico. Na atualidade, a relação entre o Estado e a violência é particularmente íntima. Desde sempre, os agrupamentos políticos mais diversos – começando pela família – recorreram à violência física, tendo-a como instrumento normal de poder. Entretanto, nos dias de hoje devemos conceber o Estado contemporâneo como uma comunidade humana que, dentro dos limites de determinado território – a noção de território corresponde a um dos elementos essenciais do Estado – reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física. Sem dúvida, é próprio de nossa época o não reconhecer, com referência a qualquer outro grupo ou aos indivíduos o direito de fazer uso da violência, a não ser nos casos em que o Estado o tolere. Nesse caso, o Estado se transforma na única fonte do “direito” à violência.”

Max Weber, Ciência e Política, p. 60.


Nada é inviolável. Nem o corpo do indivíduo, nem a casa, nem a terra, nada. Hoje e na história, tudo está sujeito à invasão arbitrária e brutal, seja a carne invadida pela agressão, ou a morada tomada pelo ataque. A violência está presente na história da humanidade desigual (que representa fração minoritária na história humana geral) tanto quanto o sangue das vítimas está presente na terra onde viveram e foram mortos.

No Campo
Os campos de extermínio


Cercado, privatizado, concentrado, baseado no latifúndio exportador, o campo oprime e expulsa a grande maioria dos homens, em benefício da elite detentora do poder econômico, político e violento. Através da violência é que se impuseram as grandes propriedades, forçando aqueles que lá residiam e viviam da agricultura de subsistência para longe. Pelo mesmo caminho, são reprimidas todas as tentativas de retomada do direito à terra do homem comum. Os dois atos legitimados pela força do Estado na forma da polícia, ou então de mercenários ignorados pela polícia e pelo Estado, coniventes e cúmplices. Se não havia ninguém na terra antes do latifundiário, havia a floresta, havia a diversidade da flora e da fauna, que também é expulsa violentamente com machados, serras elétricas, tratores e queimadas.
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O trabalho dos homens expulsos da terra que era sua casa, se estes decidem, pela necessidade de sobrevivência, permanecer nela e se vender ao latifundiário, é explorado e violentado pela escravidão em maior ou menor grau. Quando muito, o homem do campo recebe o salário de fome, que mal permite sua sobrevivência, que o impede de ir além, estudar e progredir, e em aumento do qual o trabalhador não pode protestar, ameaçado pelas máquinas e avanço tecnológico que devora sua última possibilidade de viver na e da terra.
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Pelos séculos de exploração, o homem foi afastado da morada natural, a floresta, perdendo através das gerações o conhecimento e as condições propícias para viver em harmonia com a natureza. Os hábitos violentos do trato da terra, próprio dos Grandes, acabaram contaminando os Pequenos, que passaram a utilizar técnicas destruidoras do solo, tornando-se dependentes dos insumos químicos poluentes das águas, praticar a destruição das matas, as fontes da vida. As antigas práticas indígenas, dos primeiros povos que caminharam pela terra, protetores da floresta, ao invés de unirem-se com as constantes descobertas da ciência humana, são esquecidas e substituídas pela agricultura industrial, mortífera, ou pela agricultura das queimadas indiscriminadas, igualmente letal. A agressão não se restringe a terra. Os oceanos, as florestas, o atmosfera, as geleiras, todos os longínquos recantos do Planeta são abalados pela violência do sistema, que não respeita nada, nem a Vida. Poluição brutal é simplesmente jogada ao mar, a terra ou aos céus, como se a Gaia fosse uma lixeira, um buraco negro capaz de absorver todos os refugos decrépitos de nossa ganância, egoísmo e morte.
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A fome – a grande violência - se alastra por toda parte, pois os campos são escravos dos lucros, e o sangue da terra, a colheita, não vira alimento para o povo, é exportado a mando das grandes corporações. As monoculturas arrasam as lavouras. Deixa-se de plantar arroz, feijão, milho, mandioca, para plantar cana e soja, que vão embora para outras nações. Os pastos para o gado também derrotam o alimento, para garantir enormes exportações.
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Os fugitivos da seca, das cercas, das pistolas e venenos entopem as periferias das cidades e geram nova violência, desesperados pela pobreza. Ciclo vicioso de desgraça.

Na cidade
As selvas de pedra e medo


Muros, grades, prisões e exclusão. Só mora quem consegue pagar por um teto. Só come quem pode pagar pela comida. Só vive quem pode pagar pela vida. Quem já chegou fugido da exploração e da pobreza, sem nada, sem ninguém, é imediatamente excluído e forçado a permanecer na mesma exploração e pobreza. Esses que chegam, tanto são os que vêm dos campos da fome, como os que vêm dos ventres de fome, jogados em um mundo que não os quer.
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Os habitantes das cidades sofrem imensa e constante violência. Violência do controle do Estado, mais presente do que na área rural, violência dos degredados que não vêem outra saída a não ser a luta para se inserirem no sistema privado, mesmo que fora da lei ou pela loteria dos sacrificados. Alguns preferem roubar e matar dos que possuem, na violência contra o próximo, outros preferem deixar roubar toda a própria energia e matar todos os sonhos, na violência contra si mesmo, sacrificando-se ao máximo, trabalhando períodos extenuantes dia e noite, estudando noite e dia, sem tempo para outras pessoas ou vida, até, quem sabe, conseguir ascender ao nível dos ‘cidadãos que podem pagar pela vida’.
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Os cidadãos que conseguem os meios necessários para viver, além de carregar nas costas o lucro dos proprietários, vivem, assim, apertados contra essas duas violências. Vêem-se obrigados a obedecer às ordens de um Estado ditatorial e pagar seu custo com impostos, pois acreditam que este pode protegê-los dos degredados (vistos como ameaças) e também porque se acreditam sem formas de contestar o mesmo Estado.
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Ainda que o Estado não consiga proteger os ditos cidadãos da violência gerada pelo sistema capitalista, ainda que os membros do Estado - não raramente os mesmos latifundiários históricos que herdaram o controle do poder no país, que depois se tornaram industriais, empresários, políticos e tantas outras máscaras de poder do sistema – se apropriem de mais uma parcela da força de trabalho dos cidadãos, da qual boa parte já foi tomada na forma de mais-valia, os cidadãos, ensinados a acreditar na sua total individualidade e na sua fraqueza contra o Estado, não ousam protestar ou questionar as bases do sistema.
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Apesar de a polícia se mostrar ineficiente e escassa para proteger os cidadãos, ocupados que estão em proteger as propriedades privadas, quando há tentativas de protesto, movimentações, organizações estudantis e sindicais, as polícias mostram seu peso e número na repressão de tais iniciativas, dispersando brutalmente, espancando covardemente, torturando, seqüestrando, assassinando, usando a violência legitimada pelo próprio sistema criador da polícia.
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Os direitos e liberdades dos cidadãos também estão sujeitos a manipulação, garantida pela força policial violenta, que em nome da Segurança Pública, invade casas, monitora, prende, humilha e espanca. Tente contestar coisa que seja, ameaçando ou dando prejuízo a algum poderoso, tente não pagar qualquer imposto ou conta, desobedecer qualquer ordem, e então prepare-se para ser invadido pela polícia, chutado na sarjeta, jogado nas cadeias, morto.
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Outros instrumentos, como a instituição do Judiciário, que lançou controle sobre a justiça, o Legislativo, que dita as regras do jogo, o Poder Público em geral, passaram a controlar todas as instâncias da vida social, desde acesso à água, transporte, comunicação, educação, saúde, trabalho, etc. Depois que a sociedade se estabilizou e anestesiou a todos, tudo se privatiza. Nossas necessidades básicas agora são possessões de alguns.
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É bem verdade que às vezes tanto a Polícia quanto a Justiça e demais órgãos públicos agem em benefício dos cidadãos, mas tal acontece para diminuir a pressão social que se acumularia caso a população se visse totalmente desprotegida e desamparada. Com esses pequenos exemplos de sucesso, um caso policial em que o criminoso foi condenado, um caso judicial onde o trabalhador foi beneficiado, pode-se criar um mito social de que, “apesar das deficiências, os órgãos existem para servir à população”. Mas, qual a quantidade de casos judiciais que são arquivados e esquecidos? E investigações policiais? Principalmente quando essas estão relacionadas a questões que ameaçam interesses econômicos e políticos? A proporção de esquecidos é bem maior em relação à de bem-sucedidos.

Na nação e entre nações
Estados Munidos da Guerra


Fronteiras protegidas, combate à imigração, fiscalização intensiva, altos muros, morte e sangue. É o que acontece em grande escala nas fronteiras entre ricos e pobres. As poderosas nações dominantes levantam imensos muros, como o muro Israel-Palestina, para impedir a entrada de palestinos, o muro europeu do estreito de Gibraltar, na Espanha, para impedir a entrada de africanos, e o muro americano na fronteira com o México, para impedir a entrada de latino-americanos. Os muros não são intransponíveis, mas arrastam inúmeras vidas nas incessantes tentativas de atravessá-los. Tantas mortes cruéis são registradas e tantas mais nunca serão conhecidas.
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A forte imigração de europeus para o Novo Mundo, a África e a Ásia, durante a Era dos Impérios Coloniais no século XVIII e XIX, exploradores de todos os povos, e a posterior imigração fugindo das mazelas européias no fim do século XIX e durante o XX agora inverteu-se, quando latinos, africanos e asiáticos tentam entrar nas ricas nações do Velho Mundo em busca de uma vida mais digna. Os americanos que sempre migraram para as outras nações para ocupar as suas numerosas bases militares, fazerem intervenções políticas e garantir sua influência político-econômica , também presenciam a inversão do fluxo, com a chegada de milhares de imigrantes clandestinos. Porém, os europeus colonizadores e os militares americanos, tratados como reis, agora tratam como a escória da sociedade os que chegam em suas terras, explorando-os ferozmente sob ameaça de extradição, expulsando-os violentamente, excluindo-os.
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Mas a violência da imigração não é nada comparada a violência internacional das Guerras. Movidos unicamente pelos interesses econômicos, pela gana de poder, pelo controle hegemônico, as nações do pretenso Primeiro Mundo hoje guerreiam e ocupam o Terceiro Mundo. Antes já lutaram entre si, mas os únicos mortos eram os simples cidadãos, violentamente forçados a servir um Estado sanguinário em suas aspirações por poder, no caso dos atacantes, ou na defesa do seu poder, no caso dos atacados.
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As duas Grandes Guerras dizimaram milhões de inocentes que nenhuma relação tinham com a corrida por possessões coloniais ou hegemonia política. Hoje as guerras na África movimentam o mercado negro de armas produzidas pelas fábricas do Primeiro Mundo, a Guerra do Iraque movimenta as empresas fabricantes de armas, as empreiteiras, as petroleiras e toda a estrutura necessária para reconstruir um país por eles mesmos destruído, reconstrução essa que será tão lucrativa quanto a destruição. Tantas Ditaduras Militares perpetradas na América Latina frutos dos interesses estadunidenses, tantos golpes para derrubar líderes que lutavam pelo povo ao invés de oprimi-lo.
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As tensões internacionais entre Russos e Americanos agravam-se, tudo em prol da mesma ânsia por hegemonia, gerando conflitos indiretos que aniquilam centenas pelo caminho. As pessoas não passam de peões em um jogo de xadrez mundial jogado pelos Chefes de Estado e megaempresários.
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A globalização permite hoje a violência da escravização dos assalariados de baixíssimo custo em inúmeros países do mundo. A sempre crescente produção industrial avança sobre todas as fronteiras para alavancar os maiores lucros possíveis. As multinacionais transitam livremente, as pessoas estão aprisionadas nas suas prisões da pobreza.
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Feito sangue-sugas, as megacorporações levam todo o lucro produzido nas nações periféricas para suas sedes, violentando os povos que produzem tais riquezas. Os Estados dos países pobres são lacaios dos interesses internacionais. O capitalismo financeiro, especulativo, gera crises e mais crises econômicas cujas principais vítimas são os trabalhadores assalariados nos confins das favelas.

Na humanidade
A desumanidade capitalista


Sobre a violência se assentaram os dois maiores pilares do capitalismo, a propriedade privada e o dinheiro. O primeiro sendo pré-requisito para o segundo. Dois terços da humanidade vivem na miséria, morrem de fome, epidemias, guerras, mutilados por hordas de ladrões, explodidos em campos minados esquecidos, implodidos por doenças mortais que dilaceram suas carnes, como o ebola e a AIDS, espancados pelo nascer de cada dia sem perspectiva nem futuro.
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As forças destrutivas das indústrias arrasam o meio ambiente em todos os sentidos, poluindo os mares, as terras e os ares, assassinando as espécies, arrasando as populações de baleias, animais nativos, recifes de corais, a vasta diversidade cultural das florestas tropicais, dos ecossistemas de todos os cantos da Terra. As forças produtivas consomem os recursos naturais com voracidade brutal e as sociedades consomem a produção industrial com uma irracionalidade grotesca, produzindo montanhas de lixo, de dejetos, esgoto, venenos e morte.
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A humanidade vai sufocando diante da sombra cinzenta de um futuro despedaçado. O ritmo incontrolável de crescimento econômico cobra um preço inconcebível à Natureza que não consegue suprir a ganância de todos os homens. O desequilíbrio ecológico já é largamente perceptível, com maiores e mais freqüentes desastres naturais, tufões, terremotos, secas e inundações. Em breve centenas de milhões de homens e mulheres estarão desabrigados, refugiados da violência da Natureza contra o Homem, represália contra a violência do Homem contra a Natureza. Se os Campos, Cidades, Estados e Nações de Violência persistirem, se não houver uma revolução que transforme totalmente a Humanidade, derrube o sistema de morte para construir uma sociedade que promova a Vida, a existência da Humanidade está com seus dias contados.

“Seus dias de fartura estão contados”

As pessoas estão a serviço das coisas... Somos todos "Coisa, coisamente"

(charge - Fábrica de consumidores - Frederico Ponzio)
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Os políticos falam,
MAS NÃO DIZEM.
Os votantes votam,
MAS NÃO ESCOLHEM.
Os meios de informação
DESINFORMAM.
Os centros de ensino
ENSINAM A IGNORAR.
Os juízes
CONDENAM AS VÍTIMAS...
Os policiais
Não combatem os crimes
Porque estão ocupados
COMETENDO-OS.
As bancarrotas SÃO SOCIALIZADAS,
Os lucros são PRIVATIZADOS.
O dinheiro éÉ MAIS LIVRE QUE AS PESSOAS
As pessoas estão A SERVIÇO DAS COISAS.

Eduardo Galeano

O que é Desenvolvimento Humano? Matar ou abraçar? Comprar ou amar? Ser ou ter? O Sistema é desumano... Onde está o desenvolvimento?


Desenvolvimento Humano e Capitalismo(?)


É inerente ao homem e a mulher o desejo de melhorar, seja seu bem estar, sejam suas qualidades ou qualquer aspecto de sua vida, individual e coletiva. Se assim não fosse, a espécie humana não teria saído do patamar animal, nem adquirido a distinção e supremacia na teia da vida no planeta. Contudo, apesar desse ‘instinto’, muitos problemas podem acontecer no caminho, desviando-o deste objetivo. O simples fato de existirmos e agirmos no ambiente não significa estarmos melhorando, somente que temos tal potencial.

A história da humanidade exploradora (e não é essa toda a história) e todas as suas injustiças, genocídios, roubos, explorações e guerras mostra que, contra toda natureza construtiva e positiva, o homem levantou uma sociedade baseada na morte e no sangue, onde dois terços da população mundial sucumbem na miséria para sustentar o padrão de vida do restante. Acontece que esta parcela beneficiada e responsável por esta sociedade desumana não permitiria jamais que viesse à tona a realidade na sua totalidade. Assim, criam-se várias formas de mascarar as abomináveis injustiças e empurrar a responsabilidade do sofrimento para os que sofrem - a miséria torna-se culpa dos miseráveis, as mortes, culpa dos assassinados, a injustiça, culpa dos injustiçados, a exploração, culpa dos explorados.

A classe dominante, seja nacionalmente ou mundialmente, faz dela mesma o modelo de desenvolvimento, a partir, certamente, de um conceito de ‘desenvolvimento’ bastante questionável, visto que tal condição de ‘prosperidade’ só foi possível através de um longo processo histórico de espoliação de incontáveis povos em colonizações sem fim. A dominação de povos criou uma hierarquização entre eles, estando à frente os senhores das armas e na base os servos operários.

No século XIX e XX, com o desenvolvimento das ciências sociais como as Ciências Políticas, a Sociologia, a Antropologia, a História, a Economia e tantas outras, começou a tentativa de ‘categorizar’ as nações. Quando os grupos humanos passaram a se sobrepor, veio a noção de dominantes e dominados, depois a idéia de reinos cristãos, acima, e pagãos, abaixo, após vieram as nações colonizadoras, ‘superiores’ e colonizadas, ‘inferiores’, com o tempo surgiu o conceito de Primeiro Mundo, “desenvolvido” e Terceiro Mundo, “subdesenvolvido”. Hoje se mascaram essas gritantes diferenças entre as nações e criam-se outras formas de hierarquizá-las, ignorando o processo histórico que as fez o que são.

Em 1990 o economista paquistanês Mahbub ul Haq criou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), adotado pelo PNUD, que se une ao ranking dos PIBs (Produto Interno Bruto) para criar nova categorização dos países no cenário internacional, distinguindo os países através dos fatores econômicos e sociais. O IDH é baseado em três indicadores, educação, renda e longevidade, estes que são calculados de acordo com a média aritmética de analfabetização e matriculados no sistema de ensino (educação), renda per capta (renda) e expectativa de vida (longevidade). Tal forma de avaliação não permite visualizar a desigualdade social, posto que baseia-se na média quantitativa.

Na lógica da competição, cada país busca sempre aumentar seu PIB para mostrar aos outros a potência de suas economias, e seu IDH, para ‘provar’ que é um país adequado para a população.
Mas uma realidade muito diferente se esconde por trás destes índices. Primeiro que não importa para o PIB se ele é gerado através da exploração e da miséria de povo nacional e de outros países, não importa para o IDH se os cidadãos saibam realmente usar expressar-se e utilizar a comunicação na participação social, basta que saibam unir símbolos de acordo com determinadas regras para tornarem-se ‘alfabetizados’. Não importa se eles têm um ensino de qualidade que os proporcionará autonomia de pensamento e reflexão social para construir novos horizontes, basta que estejam matriculados em uma instituição cujos documentos ‘comprovem’ que ela é de cunho educacional. Não importa se a renda per capta esconda que pouquíssimos possuem a maior parte da riqueza enquanto inúmeros não têm quase nada, basta que a ‘média’ seja aceitável. Não importa se a expectativa de vida seja gerada através da simples cura das doenças, sem a devida preocupação da sociedade em evitá-las, ao contrário, com grande interesse em gerá-las, motivado por uma medicina industrial e megacorporativa que mais está preocupada em vender remédios do que salvar vidas. Não importa se os homens são postos em pedestais ou latrinas, importa que cresçam os lucros.

Coincidentemente o conceito de Desenvolvimento Humano (DH) também surgiu em 1990, criado pelo PNUD, de onde veio o Paradigma do Desenvolvimento Humano. “Segundo esse paradigma, o que uma pessoa se torna ao longo da vida depende de duas coisas: das oportunidades que teve e das escolhas que fez. Além do acesso às oportunidades, as pessoas precisam ser preparadas para fazer escolhas.” A idéia é bela, mas na medida em que o IDH, ferramenta utilizada para medir e entender o desenvolvimento humano, é feito de forma a mascarar os problemas sociais, sem propor mudanças estruturais na sociedade e no sistema sócio-econômico que realmente transformem a as condições de vida humanas, nada além de disfarces pode ser proporcionado.

Analisando com maior profundidade essa condicional – oportunidades e escolhas – podemos ver quão contraditório se torna quando não é levado em conta o sistema em que se encontra, o capitalismo. Como se podem oferecer oportunidades a todos, como propõe o conceito de DH em um sistema baseado na desigualdade social, quando o objetivo é concentrar capital na mão de poucos através da exploração da mais-valia? Na marginalidade de parcela significativa da população, quando torna-se necessário, para controle dos trabalhadores, a existência do desemprego para manter baixo os salários e forçar o trabalhador a gostar do próprio salário (que é uma parcela mínima da riqueza produzida por ele) para qualificar-se para manter-se em um emprego que a qualquer deslize o põe na rua? Na dominação, quando o poder político é irmão do poder econômico, ou seja, as oportunidades são geradas pelos que têm dinheiro e os que têm dinheiro são os mesmos que promovem a desigualdade, a marginalidade e a dominação?

Como se pode preparar alguém para fazer escolhas (e que escolhas?) quando se cria a ideologia nas mentes populares de que o importante é ganhar dinheiro através de um modelo assalariado que gera concentração da riqueza, de um modelo de crescimento infinito que não leva em conta a real sustentabilidade humano-ambiental e de um modelo de administração estatal, que monopoliza o poder, excluindo a classe trabalhadora (os geradores da riqueza, diga-se de passagem), e que é guiado pelos interesses econômicos da elite? Como?

Integrado ao Paradigma do DH, soma-se a idéia de uma nova pedagogia para complementar a iniciativa da ONU na promoção da “Paz, Direitos Humanos e Desenvolvimento” (‘objetivos’ da organização). “O Relatório da UNESCO (...) veio nos apontar o rumo da educação no século 21: Os Quatro Pilares da Educação para o Século 21, que se apresentam como o sólido alicerce para a construção de um ideal de homem para os novos tempos: aprender a ser, aprender a conviver, aprender a fazer e aprender a conhecer.” Dentro do sistema capitalista? O que acontece é que aprendemos “a ser” produtivos e consumistas, aprendemos “a conviver” com as desigualdades e injustiças, aprendemos “a fazer” o que nos mandam e “a conhecer” só o que garantirá um bom salário. Claro que nem todos são assim, mas a maioria é, pois o sistema é eficientíssimo no controle social e intelectual.

No início, meio e final das contas, a idéia que se cria de Desenvolvimento Humano, alicerçado pelo IDH, está em consonância com o sistema Capitalista e apenas esconde o fato de que sob tal sistema político-econômico a desigualdade, injustiças e violências serão perpetuadas, pois são fundamentais para ao mecanismo da máquina capitalista. Qualquer caminho que se queira tomar que realmente objetive acabar com tais mazelas sociais da humanidade, ao invés de meramente diminuí-las, primeiro tem que propor acabar com tal sistema e no lugar levantar uma humanidade baseada na solidariedade, na igualdade e verdadeira liberdade (de todos e não só de alguns poucos), onde não existam maiores nem menores, dominadores nem dominados, exploradores nem explorados. Que realidade será esta? Que ideologia a guiará? Muitas idéias existem, mas os detalhes e a verdade só poderão ser provados quando tivermos a impetuosidade e imperiosidade de fazê-lo todos juntos, com uma nova consciência humana.

Mas, para descobrir que nova ideologia é essa, apenas faça-se a pergunta – Qual combate a desigualdade na forma de autoridade e hierarquia, combate a dominação na forma de Estado e poder econômico, qual combate o individualismo suicida na forma de consumismo e indiferença? Pergunte-se.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Alçar vôo através das asas de nossa alma para cumprir nossa Missão - A Vida!


Sonho Impossível
(Chico Buarque)

Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer
O inimigo invencível
Negar
Quando a regra é vender
Sofrer
A tortura implacável
Romper
A incabível prisão
Voar
Num limite improvável
Tocar
O inacessível chão

É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz

E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão