terça-feira, 23 de março de 2010

Saída


(Cole nas paredes, nas ruas, nas paradas de ônibus, onde possa ser visto e abrir os olhos)

Expl´ódio!


Ele não tem o dinheiro da selva de pedra. Como viver se tudo é tão estéril? Há fábricas de bonecos que trocam sangue por moedas. Vivendo do próprio sangue, a maioria se prostitui em currais e matadouros. O pensamento é proibido por lei publicada no jornal oficial do coração - ou seja, cada um cuida de autoproibir-se pensar. Tudo graças ao templo escolar da tolice. Se ainda assim nascem "ervas daninhas" (pensamentos), são tantos psico-tóxicos que são todos deformados, putrefatos, aleijados. A palavra de ordem é aceite. Compra-se aceitação, paga-se para esvaziar-se por inteiro nesta Igreja do (des)saber. Mas ele não tem esse dinheiro, ele tem suas veias intactas, sua cabeça cheia de pensamentos proibidos e vive, então, quebrando pedras. Quebrando as pedras de qualquer estrutura que encontre e tirando dessa tentativa de destruição o que houver de sobrevivência. Sofre cotidianamente todas as violências - Cada animal bípede que passa lhe ofende e amassa. Os monstros de fumaça lhe arrancam o ar como dragas arrasando áreas pulmonares. Seu sangue se derrama, mas ninguém lhe paga, pois isso nenhuma riqueza (carnívora) gera... Então, sua última e fatal decisão, preparar-se com todo o ódio que colhe dos jardins e cata nas latas de lixo, para tornar-se uma bomba de ácido 'misérico' de hidrogênio - a mais poderosa bomba já criada. Ele não está sozinho, sabe que como ele, há trocentos milhões de ignorados, apartados, marginalizados, seguindo o mesmo caminho, tornarem-se formas multidestrutivas. Quando chegar a hora, eles vão explodir, vão explodir tudo, arrancar das placas as cifras, rasgar das vitrines as etiquetas, despedaçar as fachadas e as muretas, incendiar os bancos-calabouços de inocências, para libertar todos da "liberdade" da mentira que todos bebem dia-a-dia como se fosse água. Por enquanto ele apenas se prepara. Arranque logo seu ódio do jardim antes que ele pegue. Recicle, transforme em algo mais humano e assim talvez evite o apocalipse tão esperado. Ou então apertemos logo o botão vermelho.

"Conhece-te a ti mesmo!" e ninguém poderá mandar em você!


Chego a afirmar que a ânsia de questionar a si e a tudo seja a maior das virtudes. Porque, mesmo que uma pessoa tenha qualquer defeito que seja, se ela passar a questionar esse defeito, suas origens, razões e consequências, este e qualquer outro defeito pode ser vencido ou transformado em uma virtude - e o conceito de defeito e virtude também é algo a ser excessivamente questionado e reciclado e renovado, para entender a cada dia os próprios caminhos e destino/objetivo. Enfim, cada um de nós contém um universo de possibilidades de emoções, idéias, sensibilidades, ideais e atitudes, universo a princípio obscuro, porém permeado de incontáveis pontos de luz, que norteiam ou sinalizam para nossas profundezas... Porém, 'questionemos' se na sociedade hegemônica em que vivemos estimula os indivíduos a se conhecerem, indagarem-se sobre suas posturas e formas de pensar, analisando profundamente cada comportamento, o que os cerca, os pensamentos divergentes e logo perceberemos que não, ao contrário, vive-se em uma sociedade (e cada vez mais uma porção maior do mundo é abocanhada por esta dita "sociedade" ou podemos usar o antigo termo "neocolonialismo") que impõe uma perda de memória coletiva pela fugacidade e colossal quantidade de informações - ninguém consegue lembrar o que viu na semana passada, pois um imenso volume de 'novidades' já tomou a atenção e espaço na mente; que massifica as pessoas, padronizando-as através de uma mídia massiva e alienante, uma cultura industrializada, enlatada, onde todos buscam consumir os mesmos padrões de roupas da moda, best-sellers, filmes hollywoodianos, últimos lançamentos de eletrodomésticos, fast-foods e automóveis, todos iguais em qualquer parte do mundo que já tenha sido invadido pela colonização cultural hegemônica; condicionamento social para o consumismo, impondo uma visão do 'eu' totalmente condicionada ao consumo - "compro, logo, existo", enfim, pondo tantos letreiros luminosos, vitrines, publicidades e novidades no exterior do sujeito que ele não tem tempo nem interesse de olhar para si mesmo. Tem-se assim, um indivíduo que desconhece o fato de que ele é um ser único, peculiar, singular e repleto de potencialidades criativas e culturais iniqualáveis. Sentindo-se supostamente vazio, cada um segue o caminho indicado, preencher-se de símbolos padrão que possam determinar quem ele é (tem), através de marcas, status, distinções sociais, pronomes de tratamentos pomposos, luxos, desejos de superioridade, tudo n´uma vã tentativa de sentir-se, autoafirmar algo que ele mesmo desconhece, a si mesmo, e desta forma, acaba utilizando a fórmula pré-paga da cultura americanizada ou eurocêntrica - resumindo, ocidentalizada. Tal sujeito, ignorante do que pensa, acha ou acredita, é, deste modo, facilmente manipulado, sendo possível fazer dele o que se quiser, mandá-lo votar, pagar impostos, sustentar uma sociedade que pouco se importa com ele, não fornecendo nenhum de seus direitos fundamentais, quando muito, pondo-os a venda. Sua educação, saúde, cultura, transporte e segurança são todos objetos de compra e venda, questões essas que são suas por direito. Esse indivíduo alheio e diminuto é ensinado sobre seu inelutável isolamento, a televisão explica-o perfeitamente o quão distante ele está de um mundo imaginário e fantasioso criado na telinha, expondo-o à sua pequenez ou então a educação programatória em geral esclaresse sua inata dúvida a respeito do que ele é e qual seu papel na sociedade - seu papel é obedecer, assim como o de outros é mandar. Cada um pertencente à classe dominada é ensinado desde a mais imaculada idade seu imbatível destino de obedecer, seja a quem for, cada dono e senhor ao seu tempo, primeiro os pais, depois o professor, então o chefe e o Estado. Não tendo outros referenciais sociais nem podendo compô-los ele mesmo, submete-se sem perceber e explica enfaticamente a qualquer um que pergunte essa 'lógica' lei social que lhe foi passada. "Eu obedeço, há os que mandam, e assim é o mundo, inclusive o animal"... E parece que ninguém disse a ele que, diferente dos animais ele pensa e, muito mais diferente ainda de seus primos selvagens, ele tem consciência de si e pode refletir a seu respeito. No dia em que a mulher e o homem despertarem para si mesmos e formularem todas as suas questões, buscando as mais diversas fontes de conhecimento e análise, questionando sobre os "porquês", os "comos" e os "quens", ninguém poderá dizê-lo o que fazer, pois ele perguntará "Por quê?", quererá discutir a validade dos objetivos e ações/ordens que querem impor e se recusará a obedecer se descordar delas, pois nenhum homem é uma máquina a quem se possa mandar e desmandar arbitrariamente.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Tao


Quando perdem a noção de respeito
As pessoas se voltam para a religião
Quando elas já não acreditam em si mesmas
Elas começam a depender da autoridade.

Lao-Tsé, Tao Te King



Ele busca o conhecimento de si mesmo. De que forma? Questionando-se. Sobre tudo e em todos os aspectos. Avalia as mínimas e máximas possibilidades. Tenta não fugir dos medos e trevas interiores, elucida suas dúvidas através da reflexão lógica e interpreta os acontecimentos segundo um encadeamento racional de fatos, mas sempre levando em consideração a psicologia das emoções envolvidas. No entanto, também ouve com atenção sua intuição e emoção, sabendo ser esta uma fonte de sabedoria inerente e essencial. De tal modo intenta se conhecer e, consequentemente, passa a ter uma maior compreensão sobre si mesmo, que pode também valorizar sua capacidade de realização e pensamento, não temendo nem sentindo-se inferior à ninguém. Porém, esclarecido do próprio valor e ciente da beleza da vida e do potencial humano, igualmente reconhece o valor de seus semelhantes expressa nas diferenças e peculiaridades de cada um. A esse sentimento de valorização de tudo e de todos ele chama de 'respeito'. E sabendo perceber e valorizar a beleza e riqueza tanto da natureza quanto da humanidade, como também de si mesmo, faz dessa conexão que percebe entre seu 'eu' e o 'tudo'/'todo' sua maior espiritualidade. Permite-se, assim, transcender os limites materiais, deixando sua alma mais liberta para experiências extracorporais ou extrasensoriais. Igualmente, sente no contato com o outro e na aproximação de sua alma com outra uma experiência de riqueza inestimável e, humildemente, lembrando-se de todos os caminhos que percorreu para adquirir a sempre incompleta e passível de evolução consciência de si, procura auxiliar os que o rodeiam a também questionarem-se e conhecerem-se, descobrindo os tesouros interiores, os quais, sendo tão e unicamente pessoais, são inalienáveis. Certamente que, sendo ele tão imperfeito quanto seus iguais, possui dificuldades em ajudar ou simplesmente acompanhar os que o cercam n´uma jornada através da consciência e do autoconhecimento. Mas a primeira lição ou idéia que tenta transmitir é que a única autoridade verdadeira é a de sua consciência sobre suas ações e seu desenvolvimento espiritual, que não há nenhuma autoridade exterior verdadeira e que as forças que tentam se vestir do vel dea'autoridade' são de fato 'ilusões' e/ou formas de opressão e violência. Por quê? Porque se autoconhecendo, percebemos que superior às idiossincrasias, os seres humanos e todos os seres vivos possuem uma igualdade de valor que coloca-os lado a lado, não sendo a abelha menos importante que o cão nem uma formiga menos importante que o ser humano, pois todos os seres compartilham a imperfeição e a jornada pela evolução espiritual somente possível através do aprendizado fruto da própria reflexão e da experiência com os demais, sejam homens/mulheres ou quaisquer outros seres vivos. Cada um de nós possui ensinamos inestimáveis e também necessita de todos os ensinamentos que os outros possam dar, desde que sejam lições de sinceridade, verdade e sabedoria, não dependendo isto de qualquer distinção social imaginária como as existentes nos sociedades humanas que perduram até hoje. Para que qualquer 'autoridade' externa (toda ela sendo falsa) possa de fato influir sobre a vida, as decisões e o pensamento de outrem, é necessário que este não tenha consciência de si, para então, sentir-se vazio o suficiente para permitir que uma decisão que não foi sua encaminhe suas ações. E somente quando os seres humanos, desconhecendo-se a si mesmos, seu valor e, consequentemente o valor de todos, o que pode ser denominado puramente de respeito, é que eles precisam se apegar à doutrinas e sistemas de valores (religiões) que os obrigam a tomar atitudes que não passam de mecanizações do espírito, aprisionando-o em preceitos fabricados e estáticos, enquanto a verdadeira sabedoria é dinâmica, crescente, criativa e autoconsciente.