A juventude está enterrada sob a avalanche de influências, chamarizes e os pisca-pisca dos letreiros luminosos das lojas. São tantas luzes, tantos anúncios, propagandas, imagens, sons, etiquetas e preços, tudo pedindo, digo, exigindo a atenção dos olhos juvenis, palpitantes e inquietos.
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Essa mortalha que os envolvem escurece a percepção da realidade, do entendimento do que realmente acontece além dos limites do “shopping” – o mundo limitado da juventude.
Quando os olhos abertos apenas conseguem perceber os estímulos escuros, quando tudo é escuridão, podemos ousar dizer que eles realmente estejam abertos? Uma simples ilusão que esconde os “olhos fechados” dessas mentes inocentes.
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Quando os olhos abertos apenas conseguem perceber os estímulos escuros, quando tudo é escuridão, podemos ousar dizer que eles realmente estejam abertos? Uma simples ilusão que esconde os “olhos fechados” dessas mentes inocentes.
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A prática do pensamento, do raciocínio lógico e crítico, é agora algo esquecido, relegado aos antepassados, cuja juventude sabia o significado de palavras como “luta”, “coragem” e “justiça”. Nossa juventude trocou o “p” de pensamento pelo “p” de posse. Não são os cidadãos “democraticamente” eleitos que governam os países em nosso mundo capitalista, são os pronomes possessivos. Por trás de praticamente qualquer ação política, ‘pública’ ou privada existe um pronome possessivo por trás, respaldando o ato – existe sempre um “meu interesse”, “meu benefício”, “meu lucro”, “minha carreira”, “meu bem-estar”, “seu lucro também, se você seguir os meus interesses”... e por ai vai, estando os destinos de todos nas mãos desses pronomes. Mas não são todos os pronomes possessivos, apenas os relacionados às pessoas do singular, elites gramaticais - ‘Meu’, ‘teu’ e ‘seu’. Os - ‘Nosso’, ‘vosso’, ‘deles’ – são a periferia, a classe baixa e marginal. Nenhum filhinho de papai que se respeite usaria pronomes de quinta categoria como esses a menos que seja em uma frase como “prendam eles!”.
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Dinheiro. Dinheironismo? Os shoppings são o templo de peregrinação sextal, sabadal e dominical, recebendo nos fins de semana - período sagrado, guardado o ritual do consumo exacerbado e despreocupado – todo tipo de jovem. A maioria está ali para procurar no convívio com o grupo (outros jovens com a mesma busca que todos) um bálsamo para suas vidas sem sentido. Qual o sentido da vida? Por que estamos aqui? Apesar de nunca fazerem essa pergunta filosófica, os jovens são aqueles que nos parecem mais ansiosos por estas respostas, perdidos, soterrados num mundo brilhante, barulhento, etiquetado e sem sentido.
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Na escola nos ensinam a calcular traços vazios, cruzes somatórias, igualdades inúteis. Aprendemos a decorar fórmulas para descobrir qualquer constante física, o formato estrutural da molécula de qualquer substância química, as características de todos os filos, classes e gêneros dos cinco reinos da natureza. Ninguém está preocupado em ensinar a somar esforços, subtrair desigualdades, dividir o pão e multiplicar a alegria, nem em nos mostrar a constante da justiça, ou nos fazer entender e questionar a estrutura da sociedade estratificada, hierárquica em que vivemos, também não querem fazer os jovens racionalizar o sentido de haverem classes e ‘reinos’ que habitam o primeiro, segundo, terceiro mundo e outros mais, frutos da crueldade humana.
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A juventude que cresceu acostumada a assistir televisão, diferente das antigas gerações que iam brincar de bola na rua ou de boneca na pracinha, está agora a ser expectador, mesmo quando a tela a sua frente não é a da tevê, mas de seus próprios olhos.
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Uma juventude assombrada pelo fantasma do Mercado de Trabalho, que é realmente um fantasma, já que o emprego morre a cada dia, perdendo espaço para as frias máquinas, eficiência desumana, e pelo monstro da violência, essa criatura que se esconde nos olhos tristes do mendigo ou do conformado flanelinha.
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Quando eu olho para meus companheiros de geração, esses futuros homens e mulheres que, junto comigo carregam o título de juventude, só posso ficar desesperado com a discrepância entre o percentual de cabeças pensantes e pseudocabeças, meros suportes para acessórios de grife, bonés, óculos, jóias e piercings (marcas dessa juventude). Só posso ficar indignado, injuriado com os buracos negros que existem sob esses cabelos artificiais de tinturas e penteados, sugando todo o lixo industrial e comercial, puxando até a luz das coisas e forçando-as à escuridão.
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Juventude nossa, minha, de todos, acorde para a vida. A vida não vai esperar passar o próximo seriado americano, ou estréia de hollywood ou novela global. A vida vai passar enquanto estais, estamos, inertes.
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Boa sorte, juventude. Por que com as coisas do jeito que estão, indiferentes, só muita sorte para que os poucos conscientes e lutadores consigam vencer a acomodação geral e desempenhar o papel para o qual existem, revolucionar o mundo, transgredir o habitual e opressor, inovar, na chama de um ideal: Igualdade, Fraternidade, Liberdade. Incendiar as fundações da injustiça e reerguer a humanidade da lama social em que se encontra, cheia de fome, guerra, morte.
Boa Sorte.
Boa Sorte.
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