sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Ser você mesmo é o maior eu que você sabe ser

(Teu eu eterno e livre e jamais sozinho...)


Seja você

Quando se está sozinho, você está porque você o quer.
Ninguém pode deixá-lo sozinho, podem ir todos embora,
Mas só se você quiser, a solidão pode invadi-lo,
Porque o maior presente que Ele te deu
Não foram bens materiais, nem paisagens, nem oportunidades,
Foi você.

É você que lhe foi dado, você é seu presente,
Você é tudo, é sua liberdade, sua prisão,
Sua humanidade, sua solidão.
Ninguém pode roubar-lhe isso,
Pois és imortal, apesar da matéria.
Podem até roubar-nos a vida, mas ela sempre volta,
Como um melhor amigo, um amigo fiel.

É parte de nós, é esta força.

Nunca estaremos sós, pois somos nossos irmãos.
Eu sei, você sabe, basta acreditar.
Esta alma divisível em mil partes, e ainda infinita.
É o amor.
Quanto mais se reparte, mais se multiplica, disse um sábio uma vez,
E assim, sejamos, sejamos, sejamos, sejamos... todos.
Somos Um, somos eu, você e amor. Isso é tudo que importa.

Grande, fraco, pequeno, forte, capaz, temeroso. Conceitos,
Nada mais. A verdade é que sabemos a verdade, e não há outra.
Sabemos que isto é enganoso. Mas nos deixamos levar, quando nos esquecemos
Deste presente, quando nos esquecemos de nós.

Foi então que Ele nos deu outro presente, a esperança.
Que mesmo em nosso esquecimento, nos mantêm firmes, até que recordemos
Quem somos. Pode levar vidas, mas temos todas.
Temos tudo, tudo que é preciso.
Pois temos a nós mesmos.
Seja você, apesar de tudo.
E sendo você, mostre aos esquecidos o que é possível,
Lute por eles, lute pelas suas lembranças,
Não seja você sozinho, lute por eles, e estará lutando por você.
Eles são você, antes de você se lembrar.
Veja-se nestes rostos, e ajude-se.
Seja você.

--//--

Não se esqueça dos outros assim como não se esqueça de ti mesmo.

"Amai ao próximo como a ti mesmo" - não um mandamento, uma ordem, mas uma verdade humana, uma necessidade, a verdadeira maneira de viver.

Porque amar ao próximo completa o teu amor por ti assim como amar-se permite que ames a outrem. E o amor é o caminho divino que leva a todos os recantos do universo exterior, a realidade, e os universos interiores que existem dentro de cada ser humano e criatura da natureza. Ame... é o único conselho que cada um de nós precisa, e o escutamos todos os dias codificado no cantar dos pássaros ou no desabrochar das flores. Mas não percebemos... pois "o essencial é invisível aos olhos" (Saint-Exupéry)... também só com amor podemos vencer as nossas limitações sensoriais para reconhecermos o essencial... o próprio amor.

"Eu sou, você é,
e amar é tudo o que importa"

Richard Bach

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Cercas de arame farpado dilaceram os corações egoístas... -

(Ao invés de nos dar as mãos, levantamos cercas...)
Farpas

Entre tantas riquezas que brotam de nosso chão,
Tanta fartura e vida de nossa imponente nação,
Não há justiça para os nascidos,
Filhos da mesma terra,
Há fome, há miséria, há cercas de palitos
E a morte que no final os enterra...

Um país continental, maior dentre a maioria do mundo,
Com terra a perder de vista e ainda mais um pedaço,
Mas cheia de pobres cansados, desgraçados moribundos
Oprimidos pela mesma terra, que lhes é negada - o cangaço,
O sertão, o cerrado, as pradarias, os vales profundos...

Nada lhes pertence, já está tudo cercado.
São coronéis, herdeiros dos engenhos
Os mandatários de todo o arado
E das gotas de suor que lhes encharcam o cenho...

Uma farpada nação de latifúndios
Sanguinolenta história de magreza cruel,
De um povo que roga para que no céu
Encontre o que faltou neste lugar arredio.

Morte e Vida Severina "Somos muitos Severinos, iguais em tudo na vida: iguais porque o sangue que usamos tem pouca tinta..."


Essa cova em que estás,
com palmos medida,
é a cota menor
que tiraste em vida.
- É de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
é a parte que te cabe
neste latifúndio.

- Não é cova grande.
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.

- É uma cova grande
para teu defunto parco,
porém mais que no mundo
te sentirás largo.

Viverás, e para sempre
na terra que aqui aforas:
e terás enfim tua roça.
- Aí ficarás para sempre,
livre do sol e da chuva,
criando tuas saúvas.
- Agora trabalharás
só para ti, não a meias,
como antes em terra alheia.
- Trabalhando nessa terra,
tu sozinho tudo empreitas:
Serás semente, adubo, colheita.
- Trabalharás numa terra
que também te abriga e te veste:
embora com o brim do Nordeste.
- Será de terra
tua derradeira camisa:
te veste, como nunca em vida.

- Esse chão te é bem conhecido
(bebeu teu suor vendido).
- Esse chão te é bem conhecido
(bebeu o moço antigo)
- Esse chão te é bem conhecido
(bebeu tua força de marido).
- Desse chão és bem conhecido
(através de parentes e amigos).
- Desse chão és bem conhecido
(vive com tua mulher, teus filhos)
- Desse chão és bem conhecido
(te espera de recém-nascido).

- Não tens mais força contigo:
deixa-te semear ao comprido.
- Já não levas semente viva:
teu corpo é a própria maniva.
- Não levas rebolo de cana:
és o rebolo, e não de caiana.
- Não levas semente na mão:
és agora o próprio grão.
- Já não tens força na perna:
deixa-te semear na coveta.
- Já não tens força na mão:
deixa-te semear no leirão.

- Despido vieste no caixão,
despido também se enterra o grão.
- De tanto te despiu a privação
que escapou de teu peito à viração.
- Tanta coisa despiste em vida
que fugiu de teu peito a brisa.
- E agora, se abre o chão e te abriga,
lençol que não tiveste em vida.
- Se abre o chão e te fecha,
dando-te agora cama e coberta.
- Se abre o chão e te envolve,
como mulher com que se dorme.

(Trecho de Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto.)

--//--

Só a cova aguarda o nordestino, só a morte lhe estende a mão. Fora o suor que ele derrama no sertão, nada mais lhe cabe, nada lhe é próprio, nem onde pisa, seu rachado chão. É uma terra tão grande nas mãos de tão poucos. E pelo direito à propriedade privada, assassinam-se milhares de pessoas pela privação...

Que a terra um dia seja de todos, pois ninguém pode se dizer dono da natureza, do natural.
A propriedade privada é um crime à humanidade e maldito foi o homem que criou a cerca.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Porque cantamos? Porque nossos corações batem como tambores agitados, nossas veias vibram como cordas de violinos e os pulmões reverberam sua força...


Porque Cantamos


Se cada hora vem com sua morte
se o tempo é um covil de ladrões
os ares já não são tão bons ares
e a vida é nada mais que um alvo móvel

você perguntará por que cantamos

se nossos bravos ficam sem abraço
a pátria está morrendo de tristeza
e o coração do homem se fez cacos
antes mesmo de explodir a vergonha

você perguntará por que cantamos

se estamos longe como um horizonte
se lá ficaram as árvores e céu
se cada noite é sempre alguma ausência
e cada despertar um desencontro

você perguntará por que cantamos

cantamos porque o rio esta soando
e quando soa o rio / soa o rio
cantamos porque o cruel não tem nome
embora tenha nome seu destino

cantamos pela infância e porque tudo
e porque algum futuro e porque o povo
cantamos porque os sobreviventes
e nossos mortos querem que cantemos

cantamos porque o grito só não basta
e já não basta o pranto nem a raiva
cantamos porque cremos nessa gente
e porque venceremos a derrota

cantamos porque o sol nos reconhece
e porque o campo cheira a primavera
e porque nesse talo e lá no fruto
cada pergunta tem a sua resposta

cantamos porque chove sobre o sulco
e somos militantes desta vida
e porque não podemos nem queremos
deixar que a canção se torne cinzas.

Mário Benedetti - Antologia Poética - “só quando transgrido alguma ordem o futuro se torna respirável”.


--//--


Somos militantes desta vida e não podemos deixar que nossa canção se torne cinzas! Porque a luta é acorde, em nosso peito, da harmônica melodia da justiça...
Cantamos porque cremos nessa gente, em nós mesmos! E nossas lutas de tantas derrotas nos prometem a maior vitória!

Se esta rua fosse minha, minha não seria, seria de todo homem, meu irmão.

(Havana, Cuba)

Se esta rua fosse minha

Se esta rua fosse minha
Para mim eu construiria
Uma agradável moradia
Para dormir no fim do dia.

Mas se alguém mais não tivesse
Um teto para lhe cobrir,
Eu diria que viesse
Na minha casa poderia dormir.

Se à outros tantos faltasse
Uma cama para repousar,
Logo os faria chamar
Para que na rua ninguém ficasse.

Até que um dia um cavalheiro diria
- A todos queres acolher?
Não vês que nem Deus, Vossa Senhoria
Pôde todos socorrer?

Chamaria a mim de idealista
E um grande tolo, sonhador,
Que por mais que eu insista,
Onde tanto pobre iria pôr?

Então lhe disse que nunca iria
Fechar a porta para um irmão,
Tão grande ser a minha casa poderia
Quão grande fosse meu coração!

Continuei dizendo que o país
Realmente só progride
Quando alguém do seu divide,
Ao invés de olhar o próprio nariz!

Quando a solidariedade
For hino em toda parte
E com quem precisa divide-se o pão,
Para quem desiste, estende-se a mão.

Prefiro ser um idealista
Do que um rico egoísta,
Pois o bem da humanidade
Não se constrói com desumanidade.

Não é o egoísmo do mais rico,
Nem a ignorância do excluído,
Tampouco a fraqueza do oprimido
Ou a ganância do político,

Que guiará os homens do mundo
Para um futuro deveras justo,
Onde ninguém durma na rua ou passe fome
E poderá se dizer bom este novo homem.
--//--
Ciranda ideal...

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Eco







Eco

Você faz o que eles dizem.
Já está tudo programado –
Membros, corpo, eucalipto,
Microprocessador controlado.

Faça, coma, vista, compre!
O horário precisa ser seguido.
Que fazer? Você já sabe,
É só ouvir o seu amigo,
- A Globo sabe do que você precisa.

Programação de vida, você consegue!
A droga lhe sustenta e entorpece...
Isso é um vício que você esquece,
Só aperta o botão que ela aparece
- A Globo sabe do que você precisa.

Ver, ver, ver...
Antigamente se liam livros,
Mas não passam na televisão.
Eles não anunciavam, nem eram vivos
Como é um filme de ação!
- A Globo sabe do que você precisa,
Você não!

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Liberdade, Fraternidade, Igualdade! Sem um desses pilares, desabamos na desumanidade...

(Na bandeira diz - Liberdade, ainda que tardia!)

"Nós que, pelo império das circunstâncias, dirigimos a revolução, não somos donos da verdade, menos ainda de toda a sapiência do mundo. Temos que aprender todos os dias. No dia em que deixarmos de aprender, que acreditarmos saber tudo ou que tivermos perdido nossa capacidade de contato ou de intercâmbio com o povo e com a juventude, será o dia em que teremos deixado de ser revolucionários e, então, o melhor que vocês poderiam fazer seria jogar-nos fora..."


(Che Guevara)


Revolucionar é aprender, é crescer, é compartilhar, é mudar!

Em um mundo em que isso é suprimido por regras, etiquetas, deveres e leis, impostas por domínios absolutos, opressores, exploradores, é preciso grande força para resgatar tais valores - aprendizado, crescimento, troca, mudança...


Viva a relovução!

Piscou? Uma alma acabou de ser levada embora... Por quê? Porque o homem não se importa...


A Hora

A hora cortante rasga o ímpeto vital,
E as asas negras surgem de repente
Roubando do corpo o suspiro final,
Último pulsar que o coração pressente.

Pelo relógio infernal morrem-se nas horas
Tantas vidas perdidas e descontentes,
Tragadas pela treva, engolid´aurora
Dos injustiçados, esquecidos e doentes.

O anjo negro lança sobre a terra
Inda de dia, a escuridão funérea,
Adaga mortífera ao peito a morte encerra,
Golpe final para os filhos da miséria.

Nas horas sepulcrais esta asa impera
Sobrevoando os corpos desumanos.
Anjos apocalípticos são homens tiranos:
Anjos da Morte, Fome, Peste e Guerra.

Lutemos para vencer a ganância, o ódio e a prepotência!


Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar a todos, se possível: judeus, o gentio... negros... brancos.

Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo, não para o seu infortúnio. Por que temos de odiar e desprezar uns aos outros. Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém desviamo-nos dele. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da produção veloz, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz em grande escala, tem provocado a escassez. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade; mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura! Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo estará perdido.

A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessa aproximação é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante, a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo a fora. Milhões de desesperados, homens e mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que oprime seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir, eu digo: “Não desespereis!” A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbirão e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, mesmo que morram homens, a liberdade nunca perecerá.

Soldados! Não vos entregueis a esses homens violentos... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar ao mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação racionada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquinas.

Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossa alma! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar.... os que não se fazem amar e os desumanos.

Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décima sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou de um grupo de homens, mas de todos os homens! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa! Portanto – em nome da democracia -, usemos esse poder, unamo-nos todos nós! Lutemos por um mundo novo... um mundo bom, que a todos assegure um ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.

É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à aventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!

Hannah, estás me ouvindo?! Onde te encontres, levanta os olhos! Vês Hannah?! O sol vai rompendo as nuvens, que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo, um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da violência. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas , afinal, começa a voar. Voar para o arco íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!


(Discurso célebre de Charles Chaplin em O Grande Ditador) Que nos lembra que não podemos desistir de nossa luta por "um mundo bom, uma vida livre e bela"

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Navio Negreiro - "Tinir de ferros... estalar de açoite... Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar..." - Castro Alves


Latrina Humana! O Sistema Penal é uma fábrica de injustiças!
Justiça?!


Que justiça é essa?
Que conceito de justiça é esse que considera mandar uma pessoa para uma latrina cheia de grandes para torná-lo alguém melhor?

A cadeia só serve para esconder de nossos olhos essas injustiças, essa desigualdade social, esse buraco negro que rouba da população carente qualquer esperança, oprimindo-a, exaurindo-a, permitindo assim que os carros trafeguem sem serem importunados por pedintes ou flanelinhas.

16 anos? Muitos desses algozes que defendem a redução da maioridade penal bem gostariam que ela fosse de 16 semanas! “Desmamou, cadeia neles!” – como disse Cesar Cardoso, em seu texto “Carta a Deus” - Porque essa gente, cuja justiça só enquadra o bem-estar deles, quer condenar os filhos e filhas dos pobres, assim como seus pais já estão condenados. Filho de pobre, por certo, nessa lógica, só tem um destino, imposto por esta sociedade excludente, ser criminoso. Não há outra perspectiva de vida, nenhuma alternativa digna e honesta é fornecida pelo mundo que os cercam. Melhor que preventivamente ele vá logo para a cadeia...

“Nada justifica, nem a pobreza nem a injustiça, nem tudo o que eles sofrem, sem nenhum amparo social, nada justifica o ato de tirar uma vida ou qualquer outro crime hediondo” Eles esbravejam contra os miseráveis dos camburões. Mas eu me pergunto como quem nunca teve sua vida respeitada, valorizada, dignificada, como poderá respeitar qualquer vida? A vida não vale nada para os outros e para a ele, a vida dos outros tão pouco vale alguma coisa. A hipocrisia burguesa é realmente ridícula, esperar que o escravo (moderno), depois de ser açoitado (através de impostos, miséria, fome e violência) a vida inteira por ele, rico cidadão, vai ter compaixão quando tiver a oportunidade de tirar desta sociedade sectária o que nunca recebeu.

A prisão é uma lixeira onde os dominantes jogam o refugo de sua ganância, homens e mulheres - e se depender deles, crianças e adolescentes também - explorados por eles até a última gota de sangue e depois retirada de seus olhos.

Prisões não, navios negreiros. Navios atolados na imundice, na crueldade, na desumanidade, na bestialidade do homem.

Uma sociedade deturpada, preconceituosa, opressora, exploratória, injusta e desigual, cruel e canibal (pois engole impiedosamente todos os seus filhos humildes e joga-os na fogueira da exclusão), desumana e capitalista, não poderá nunca gerar um mundo ideal para todos.

Uma sociedade como esta, um mundo como este, precisam ser reiniciados, refeitos, reconstruídos do zero. Uma revolução é necessária. Só assim, poderemos enfrentar este mal que nos destrói – o egoísmo generalizado, incrustado em todos os aspectos da vida moderna.

Revolucionar!


(O sistema penitenciário do Brasil é um dos 10 maiores do mundo. São 301,8 mil presos, com os quais gasta-se em média R$ 252,8 milhões por MÊS! E ainda, há um déficit de 100 mil vagas, havendo 80 mil que não cabem no sistema, estando confinados em delegacias superlotadas! Isto de acordo com uma reportagem do Correio Braziliense 08/2003, ou seja, atualmente esses números devem ser muito superiores.
http://www2.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20030830/pri_bra_300803_127.htm)