quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A Ditadura... Há Ditadura? Há Ditadura! Não se deixe iludir... "O pior cego é o que vê TV"


Há Ditadura... sim... não se pode negar, por mais que ninguém perceba, por mais que praguejem tolices sobre "Democracia" e "Liberdade"...

Dois valores imprescindíveis para espírito humano, o direito de decidir na mão de cada um - democracia - e o direito de decidir por si mesmo - liberdade...

Preciosidades que perderam seus mais profundos significados, perderam seu sentido, seus valores humanos, e se transformaram em simples produtos na vitrine mercadológica do sistema. São meros verbetes ilustrativos... nas bocas, nas ruas, nas placas; fruto da programação implacável, do poder de dominação psicológico e fisiológico sobre cada engrenagem minúscula do sistema...

Uma abominável ditadura, tão perversa que não se permite enxergar claramente, ilude com tamanha perícia que torna-se até um absurdo levantar esta hipótese. Ditadura? No Brasil? No "exemplar mundo capitalista ocidental, maior defensor da "liberdade e democracia"?

Mas, o que significa isso? Antes de blasfemarem injúrias e tolices predeterminadas, já paramos e refletimos o que será mesmo Liberdade?

Seria Liberdade se vestir de acordo com padrões alheios a você mesmo?... Imposições sabe-se lá de quem e de onde, mas que se acata com toda a subserviência de um simples cumpridor de ordens.

Seria Liberdade pensar “tudo” aquilo que é “permitido”? Rigidamente regrado pelas ‘Tradições’, ‘Dogmas’, ‘Regras da Sociedade’?

Pensamos em “tudo”?... Ou será que o condicionalmente ‘infanto-juvenil-adulto-velho-túmulo’ cuidou perfeitamente para que apenas o pueril e egoísta esteja na pauta de nossos pensamentos?

E todo o planejamento de uma vida! Que demonstração de Liberdade. Nasce, come, engole, cresce, come, engole, cresce, anda, come, engole, cresce, veste, come, engole, cresce, assiste, come, engole, cresce, aceita, come, engole, cresce, aprende, come, engole, cresce, compra, come, engole, cresce, compra, come, compra, engole, compra, cresce, compra, come, compra, compra, compra, compra, engole, compra, compra, compra, compra, cresce... decresce, decresce, decresce... volta, não adianta, não há mais nada além do anúncio da TV.
...
Que linda Liberdade.
Mas não quero essa “Liberdade” para mim.

Demo´cracia... o que é? Poder nas mãos do Demo? Do Bicho do mal, do Coisa Ruim?... Porque a primeira vez em que foi o poder do Povo, nem poder do povo era.

A democracia em seu berço grego já nasceu disforme e desigual. Uma ínfima parcela escravocrata era a dona do poder, a única considerada – povo. A massa trabalhadora, afinal, não é gente, é “tração animal” para a Roda do Progresso e Desenvolvimento.

E nossas vidas continuam, peças diminutas, alienadas, na paisagem dos Magnatas.


Em um livro de Erico Veríssimo muito bom chamado - Incidente em Antares –, que se passa na época da “histórica” e oficial Ditadura Militar (Por que, será mesmo que é história? Será mesmo que passou? Que não está lá fora, regendo nossos passos?), e no qual trata da ‘Fantástica’ narração do Incidente mais incomum já ‘noticiado’ – a volta de Sete cadáveres de seus esquifes, em protesto por não poderem ter sido enterrados, por ocasião de uma greve geral ocorrente na cidade de Antares, um Padre, cuja paróquia era a Vila Operária, sensível aos males e dores de seus irmãos, residentes na Favela local, a Babilônia (Que nome sugestivo para uma favela – nome de império, de glória – para designar a maior tristeza humana, as condições miseráveis e subumanas sob as quais vive boa parte da humanidade), quando indagado sobre o incidente, e confrontado com a possibilidade da presença, do retorno do Cristo para justificar tais ressurreições, retribui ao Delegado de Polícia presente (Conhecida figura, aluno exemplar dos tempos do Estado Novo, nas des´artes da tortura):

- Suponhamos que Jesus Cristo tenha mesmo voltado... Delegado Pigarço, não seria prudente mandar seus investigadores procurar o Filho do Homem? Olhe que esse indivíduo é perigoso... um subversivo socializante, um terrorista com antecedentes criminosos, uma ficha negríssima no DOPS de Pôncios Pilatos. Lembre-se do que ele andou dizendo e fazendo contra o grande Estabelecimento Romano...
Inocêncio (O delegado) põe-se de pé, a cara contraída. Mas o jovem Padre prossegue:
- Prenda Jesus, delegado, prenda-o o quanto antes! Interrogue-o. Faça-o confessar tudo, dizer o nome de todos os seus discípulos e cúmplices... Se ele não falar, torture-o em nome da Civilização Ocidental Cristã.

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A maior hipocrisia de todo e qualquer capitalista indiferente, egoísta, perpetuador do ‘sistema de relações servis’, é se dizer Cristão. E uma grande ofensa à causa e à luta de Cristo de construir um Lar para todos os homens, igualmente, fraternalmente, livre, o verdadeiro Reino de Deus.

Não nos enganemos com a triste propaganda desses abutres corporativos, entronados em seus privilégios e em suas moradas de ossos. Não somos livres; não temos direitos, exceto aqueles insignificantes que não agridam o “direito superior que possui o capital sobre todas as coisas"; não temos liberdade de expressão, apenas a ridícula idéia de que repetir o coro é se expressar; não temos educação, apenas um conjunto de conhecimentos aplicados na criação da riqueza de poucos, quase nada que provoque o bem-estar comum, menos ainda que nos permita ser livre-pensantes; E nenhuma, absolutamente nenhuma noção de coletividade, a não ser a única “coletividade” nos dita ‘importante’ – o time de futebol – e, como se não bastasse, sobrepujando nosso inexistente sentimento comunitário, nos rasgam a carne para impingir perpetuamente a irreversível competição sanguinária.

“Realmente, vivemos muito sombrios!” Brecht

E só a grande luta de vidas inteiras, doadas, febrilmente solicitadas pela missão divina de lutar pelo outro, pode combater tudo quanto existe para combater, vencer, transformar, revolucionar. Vidas inteiras, cada gota de sangue de inúmeros indivíduos que não nascem para outra coisa que não seja ser a força da luta, o fogo da revolta, a direção para a justiça.

Não podemos desistir de lutar, pois a luta é o sentido de nossas existências, guerreiros de uma guerra que nunca deveria ser travada, de homens contra homens, homens contra sentimentos mesquinhos, egoístas e supérfluos, homens contra forças inexistentes, fruto de sua própria loucura, sua sede irracional pela fonte de sua destruição – poder como privilégio, individualismo como muralhas, trabalho como escravidão, existência como o vazio.

Libertemos-nos.
Sejamos humanos.
Ser humano.


Se Jesus Cristo voltasse, filho de uma mulher comum, casada com um trabalhador braçal comum, se tivesse conseguido ser parido, caso sua mãe não fosse espancada brutalmente por um marido bêbado, acusando-a de traição, se tivesse mesmo sobrevivido a primeira grande barreira das classes pobres, a carnívora mortalidade infantil, se ainda tivesse passado pelo cruel trabalho infantil, por ordem da inelutável sobrevivência, resistido às agruras do abandono, da mendicância, da exclusão social, e tivesse chegado à idade adulta e dito e feito o que foi sua missão dizer e fazer, seu sentido de viver, teria tido fim semelhante ao de dois mil anos atrás, feito preso e assassinado político, vítima da guerra rural, opressão sindical, ou mesmo do caos social e da violência urbana que acomete as ruas, os becos e os corredores de nossas relações sociais.
Ninguém ouviria sua voz, graças ao barulho ensurdecedor das buzinas, dos gritos, dos desesperos e das propagandas. Ninguém o notaria, pois seria só mais um fruto da miséria, um homem esfarrapado e faminto. E se alguns o seguissem, essa minoria seria brutalmente esmagada pela “incontestável verdade” de que “sempre haverá ricos e pobres, soberbos e miseráveis”. Mentira!

Lutemos. A luta do Cristo é a nossa luta, a luta do ser humano, que ainda se lembra o que é ser humano.

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