terça-feira, 23 de março de 2010

"Conhece-te a ti mesmo!" e ninguém poderá mandar em você!


Chego a afirmar que a ânsia de questionar a si e a tudo seja a maior das virtudes. Porque, mesmo que uma pessoa tenha qualquer defeito que seja, se ela passar a questionar esse defeito, suas origens, razões e consequências, este e qualquer outro defeito pode ser vencido ou transformado em uma virtude - e o conceito de defeito e virtude também é algo a ser excessivamente questionado e reciclado e renovado, para entender a cada dia os próprios caminhos e destino/objetivo. Enfim, cada um de nós contém um universo de possibilidades de emoções, idéias, sensibilidades, ideais e atitudes, universo a princípio obscuro, porém permeado de incontáveis pontos de luz, que norteiam ou sinalizam para nossas profundezas... Porém, 'questionemos' se na sociedade hegemônica em que vivemos estimula os indivíduos a se conhecerem, indagarem-se sobre suas posturas e formas de pensar, analisando profundamente cada comportamento, o que os cerca, os pensamentos divergentes e logo perceberemos que não, ao contrário, vive-se em uma sociedade (e cada vez mais uma porção maior do mundo é abocanhada por esta dita "sociedade" ou podemos usar o antigo termo "neocolonialismo") que impõe uma perda de memória coletiva pela fugacidade e colossal quantidade de informações - ninguém consegue lembrar o que viu na semana passada, pois um imenso volume de 'novidades' já tomou a atenção e espaço na mente; que massifica as pessoas, padronizando-as através de uma mídia massiva e alienante, uma cultura industrializada, enlatada, onde todos buscam consumir os mesmos padrões de roupas da moda, best-sellers, filmes hollywoodianos, últimos lançamentos de eletrodomésticos, fast-foods e automóveis, todos iguais em qualquer parte do mundo que já tenha sido invadido pela colonização cultural hegemônica; condicionamento social para o consumismo, impondo uma visão do 'eu' totalmente condicionada ao consumo - "compro, logo, existo", enfim, pondo tantos letreiros luminosos, vitrines, publicidades e novidades no exterior do sujeito que ele não tem tempo nem interesse de olhar para si mesmo. Tem-se assim, um indivíduo que desconhece o fato de que ele é um ser único, peculiar, singular e repleto de potencialidades criativas e culturais iniqualáveis. Sentindo-se supostamente vazio, cada um segue o caminho indicado, preencher-se de símbolos padrão que possam determinar quem ele é (tem), através de marcas, status, distinções sociais, pronomes de tratamentos pomposos, luxos, desejos de superioridade, tudo n´uma vã tentativa de sentir-se, autoafirmar algo que ele mesmo desconhece, a si mesmo, e desta forma, acaba utilizando a fórmula pré-paga da cultura americanizada ou eurocêntrica - resumindo, ocidentalizada. Tal sujeito, ignorante do que pensa, acha ou acredita, é, deste modo, facilmente manipulado, sendo possível fazer dele o que se quiser, mandá-lo votar, pagar impostos, sustentar uma sociedade que pouco se importa com ele, não fornecendo nenhum de seus direitos fundamentais, quando muito, pondo-os a venda. Sua educação, saúde, cultura, transporte e segurança são todos objetos de compra e venda, questões essas que são suas por direito. Esse indivíduo alheio e diminuto é ensinado sobre seu inelutável isolamento, a televisão explica-o perfeitamente o quão distante ele está de um mundo imaginário e fantasioso criado na telinha, expondo-o à sua pequenez ou então a educação programatória em geral esclaresse sua inata dúvida a respeito do que ele é e qual seu papel na sociedade - seu papel é obedecer, assim como o de outros é mandar. Cada um pertencente à classe dominada é ensinado desde a mais imaculada idade seu imbatível destino de obedecer, seja a quem for, cada dono e senhor ao seu tempo, primeiro os pais, depois o professor, então o chefe e o Estado. Não tendo outros referenciais sociais nem podendo compô-los ele mesmo, submete-se sem perceber e explica enfaticamente a qualquer um que pergunte essa 'lógica' lei social que lhe foi passada. "Eu obedeço, há os que mandam, e assim é o mundo, inclusive o animal"... E parece que ninguém disse a ele que, diferente dos animais ele pensa e, muito mais diferente ainda de seus primos selvagens, ele tem consciência de si e pode refletir a seu respeito. No dia em que a mulher e o homem despertarem para si mesmos e formularem todas as suas questões, buscando as mais diversas fontes de conhecimento e análise, questionando sobre os "porquês", os "comos" e os "quens", ninguém poderá dizê-lo o que fazer, pois ele perguntará "Por quê?", quererá discutir a validade dos objetivos e ações/ordens que querem impor e se recusará a obedecer se descordar delas, pois nenhum homem é uma máquina a quem se possa mandar e desmandar arbitrariamente.

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