sábado, 26 de outubro de 2013

perdido...


a praia. é sempre a praia o cenário, o lugar. o mar. é sempre ele que mostra, que ensina sendo. Na praia, então. caminhando. o céu está ficando azul clarinho de novo, mais uma vez. daqui a pouco a terra vai nascer de novo, essa parte da terra, que está com ele. a água não está fria. mas também não está quente. o vento sim está frio e não tem casaco que esquente. o jeito é se abraçar e se concentrar na vista, nos barulhos do vento, dos cabelos cobrindo o rosto, da espuma nos pés. o jeito é se abraçar e deixar a areia fazer carinho nos dedos, no calcanhar que deixa marcas que não durarão mais que horas. o jeito é se abraçar e esquecer das pegadas. fazer outras. andar. dá para se esquecer das pegadas? porra, pegadas que ficam na pele, no nervo, na vida... Ainda que elas não estejam mais lá, tenham se apagado, não esquecemos delas... como conviver com a não convivência? como conviver com a própria vida sem nada além de si mesmo? procura se preencher, se preenche tanto, sempre preenchendo um pouquinho mais, isso e aquilo, experiências realmente boas, verdadeiras. preenchendo. mas, aquela velha história, não somos autosuficientes. como sobreviver à deriva, esses espaços desérticos entre um continente e outro, essa semente flutuando no meio do nada de água, tanta água e nada... a semente não aguenta navegar a vida inteira. nenhum navio pode existir sem a costa, sem a praia, sem água doce, que dê para beber, que dê para beijar, que cuide do lábio, da boca, do interior inteiro, que alimente. um pouco de calmaria instigante, que motive, que acolha, como aquela luz do entardecer, realmente querida, realmente preocupada com a gente. que quer ouvir nossas histórias, que pergunta e escuta, de verdade. e que conta histórias, sem que se pergunte. aquela luz que muda de cor, do azul, enrubesce, de tanto beijo, arroxeia, quando respira, aprofunda azul.

Dois em um - Mais uma Vez - essa música

sábado, 15 de junho de 2013

desancorou...


Sentiu uma falta... uma necessidade de carinho... como quem mergulha lá no fundo e quer voltar para respirar (ainda que não precise)... como uma memória do corpo que se lembra bem de como é bom estar junto... Uma contradição dele, que ao mesmo tempo que tão só, tão sem, tão difícil de chegar ou de encontrar, ao mesmo tempo sempre por milagre encontrou, pôde compartilhar o afeto que transborda em nós e que não podemos guardar, que nos escapa... como a fruta madura que a árvore deixa cair do galho por não poder mais segurar, doa... Acontece que ela não estava ali, não queria estar ali... afastava-se e afastava-se, como a ilha desaparecendo no horizonte quando o navio alcança o alto mar... ela não quisera navegar... doía-lhe sentir o sabor do mar, da amplidão tão grande deste mar, no qual o moço se encontrava... por mais que ela entendesse, soubesse, que quando entramos na água, nos banhamos em todos os oceanos da terra e isso é tudo, isso é tanto, estamos livres, podemos nadar... ela agora prefere o seco, a terra aparentemente firme, aparentemente sólida, aparentemente estável... a água é imprevisível demais, fluída demais, líquida demais... E assim, eles se separaram, aos poucos, como o horizonte... hora podem se ver, mas uma hora não poderão mais... E essa distância de léguas de mar até a terra também doeu... nele. E ele quis voltar... tentar trazer... estendeu a mão, chamou, chamou - vem, vem comigo... simplesmente estar, sem nada mais, sem garantia... flutuar, sem medo de se afogar, pois somos a água... E não veio. Entendeu, ela não vem... não adianta esperar... não se pode esperar... a correnteza nos leva pelo caminho e o fundo do mar é profundo demais para tentar alcançar a âncora... nem mesmo havia âncora naquele navio... um navio feito para navegar, não para esperar... Aprendeu. Dois caminhos então, que não se cruzam mais, não agora... se é isso que quer, apenas aceitar o movimento e seguir com ele pode... aprendeu... a não se pesar, não se apertar... a não sentir falta... (muitas faltas ainda precisará sentir), mas, ao contrário, ser feliz por que tudo é, está sendo e segue sendo... aprendeu muito e segue aprendendo... e no mar agora vive, um mar tão grande e tão vivo que com tudo nos relacionamos... um mar que nunca para, sempre em ondas, que sobem, descem, que a todas as praias banha, molha, descobre... que em toda parte chove, evapora, troveja... um mar de encontros... de azul de céu e de profundeza abissal...

Unravel - Björk - para aprofundar...


terça-feira, 23 de março de 2010

Saída


(Cole nas paredes, nas ruas, nas paradas de ônibus, onde possa ser visto e abrir os olhos)

Expl´ódio!


Ele não tem o dinheiro da selva de pedra. Como viver se tudo é tão estéril? Há fábricas de bonecos que trocam sangue por moedas. Vivendo do próprio sangue, a maioria se prostitui em currais e matadouros. O pensamento é proibido por lei publicada no jornal oficial do coração - ou seja, cada um cuida de autoproibir-se pensar. Tudo graças ao templo escolar da tolice. Se ainda assim nascem "ervas daninhas" (pensamentos), são tantos psico-tóxicos que são todos deformados, putrefatos, aleijados. A palavra de ordem é aceite. Compra-se aceitação, paga-se para esvaziar-se por inteiro nesta Igreja do (des)saber. Mas ele não tem esse dinheiro, ele tem suas veias intactas, sua cabeça cheia de pensamentos proibidos e vive, então, quebrando pedras. Quebrando as pedras de qualquer estrutura que encontre e tirando dessa tentativa de destruição o que houver de sobrevivência. Sofre cotidianamente todas as violências - Cada animal bípede que passa lhe ofende e amassa. Os monstros de fumaça lhe arrancam o ar como dragas arrasando áreas pulmonares. Seu sangue se derrama, mas ninguém lhe paga, pois isso nenhuma riqueza (carnívora) gera... Então, sua última e fatal decisão, preparar-se com todo o ódio que colhe dos jardins e cata nas latas de lixo, para tornar-se uma bomba de ácido 'misérico' de hidrogênio - a mais poderosa bomba já criada. Ele não está sozinho, sabe que como ele, há trocentos milhões de ignorados, apartados, marginalizados, seguindo o mesmo caminho, tornarem-se formas multidestrutivas. Quando chegar a hora, eles vão explodir, vão explodir tudo, arrancar das placas as cifras, rasgar das vitrines as etiquetas, despedaçar as fachadas e as muretas, incendiar os bancos-calabouços de inocências, para libertar todos da "liberdade" da mentira que todos bebem dia-a-dia como se fosse água. Por enquanto ele apenas se prepara. Arranque logo seu ódio do jardim antes que ele pegue. Recicle, transforme em algo mais humano e assim talvez evite o apocalipse tão esperado. Ou então apertemos logo o botão vermelho.

"Conhece-te a ti mesmo!" e ninguém poderá mandar em você!


Chego a afirmar que a ânsia de questionar a si e a tudo seja a maior das virtudes. Porque, mesmo que uma pessoa tenha qualquer defeito que seja, se ela passar a questionar esse defeito, suas origens, razões e consequências, este e qualquer outro defeito pode ser vencido ou transformado em uma virtude - e o conceito de defeito e virtude também é algo a ser excessivamente questionado e reciclado e renovado, para entender a cada dia os próprios caminhos e destino/objetivo. Enfim, cada um de nós contém um universo de possibilidades de emoções, idéias, sensibilidades, ideais e atitudes, universo a princípio obscuro, porém permeado de incontáveis pontos de luz, que norteiam ou sinalizam para nossas profundezas... Porém, 'questionemos' se na sociedade hegemônica em que vivemos estimula os indivíduos a se conhecerem, indagarem-se sobre suas posturas e formas de pensar, analisando profundamente cada comportamento, o que os cerca, os pensamentos divergentes e logo perceberemos que não, ao contrário, vive-se em uma sociedade (e cada vez mais uma porção maior do mundo é abocanhada por esta dita "sociedade" ou podemos usar o antigo termo "neocolonialismo") que impõe uma perda de memória coletiva pela fugacidade e colossal quantidade de informações - ninguém consegue lembrar o que viu na semana passada, pois um imenso volume de 'novidades' já tomou a atenção e espaço na mente; que massifica as pessoas, padronizando-as através de uma mídia massiva e alienante, uma cultura industrializada, enlatada, onde todos buscam consumir os mesmos padrões de roupas da moda, best-sellers, filmes hollywoodianos, últimos lançamentos de eletrodomésticos, fast-foods e automóveis, todos iguais em qualquer parte do mundo que já tenha sido invadido pela colonização cultural hegemônica; condicionamento social para o consumismo, impondo uma visão do 'eu' totalmente condicionada ao consumo - "compro, logo, existo", enfim, pondo tantos letreiros luminosos, vitrines, publicidades e novidades no exterior do sujeito que ele não tem tempo nem interesse de olhar para si mesmo. Tem-se assim, um indivíduo que desconhece o fato de que ele é um ser único, peculiar, singular e repleto de potencialidades criativas e culturais iniqualáveis. Sentindo-se supostamente vazio, cada um segue o caminho indicado, preencher-se de símbolos padrão que possam determinar quem ele é (tem), através de marcas, status, distinções sociais, pronomes de tratamentos pomposos, luxos, desejos de superioridade, tudo n´uma vã tentativa de sentir-se, autoafirmar algo que ele mesmo desconhece, a si mesmo, e desta forma, acaba utilizando a fórmula pré-paga da cultura americanizada ou eurocêntrica - resumindo, ocidentalizada. Tal sujeito, ignorante do que pensa, acha ou acredita, é, deste modo, facilmente manipulado, sendo possível fazer dele o que se quiser, mandá-lo votar, pagar impostos, sustentar uma sociedade que pouco se importa com ele, não fornecendo nenhum de seus direitos fundamentais, quando muito, pondo-os a venda. Sua educação, saúde, cultura, transporte e segurança são todos objetos de compra e venda, questões essas que são suas por direito. Esse indivíduo alheio e diminuto é ensinado sobre seu inelutável isolamento, a televisão explica-o perfeitamente o quão distante ele está de um mundo imaginário e fantasioso criado na telinha, expondo-o à sua pequenez ou então a educação programatória em geral esclaresse sua inata dúvida a respeito do que ele é e qual seu papel na sociedade - seu papel é obedecer, assim como o de outros é mandar. Cada um pertencente à classe dominada é ensinado desde a mais imaculada idade seu imbatível destino de obedecer, seja a quem for, cada dono e senhor ao seu tempo, primeiro os pais, depois o professor, então o chefe e o Estado. Não tendo outros referenciais sociais nem podendo compô-los ele mesmo, submete-se sem perceber e explica enfaticamente a qualquer um que pergunte essa 'lógica' lei social que lhe foi passada. "Eu obedeço, há os que mandam, e assim é o mundo, inclusive o animal"... E parece que ninguém disse a ele que, diferente dos animais ele pensa e, muito mais diferente ainda de seus primos selvagens, ele tem consciência de si e pode refletir a seu respeito. No dia em que a mulher e o homem despertarem para si mesmos e formularem todas as suas questões, buscando as mais diversas fontes de conhecimento e análise, questionando sobre os "porquês", os "comos" e os "quens", ninguém poderá dizê-lo o que fazer, pois ele perguntará "Por quê?", quererá discutir a validade dos objetivos e ações/ordens que querem impor e se recusará a obedecer se descordar delas, pois nenhum homem é uma máquina a quem se possa mandar e desmandar arbitrariamente.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Tao


Quando perdem a noção de respeito
As pessoas se voltam para a religião
Quando elas já não acreditam em si mesmas
Elas começam a depender da autoridade.

Lao-Tsé, Tao Te King



Ele busca o conhecimento de si mesmo. De que forma? Questionando-se. Sobre tudo e em todos os aspectos. Avalia as mínimas e máximas possibilidades. Tenta não fugir dos medos e trevas interiores, elucida suas dúvidas através da reflexão lógica e interpreta os acontecimentos segundo um encadeamento racional de fatos, mas sempre levando em consideração a psicologia das emoções envolvidas. No entanto, também ouve com atenção sua intuição e emoção, sabendo ser esta uma fonte de sabedoria inerente e essencial. De tal modo intenta se conhecer e, consequentemente, passa a ter uma maior compreensão sobre si mesmo, que pode também valorizar sua capacidade de realização e pensamento, não temendo nem sentindo-se inferior à ninguém. Porém, esclarecido do próprio valor e ciente da beleza da vida e do potencial humano, igualmente reconhece o valor de seus semelhantes expressa nas diferenças e peculiaridades de cada um. A esse sentimento de valorização de tudo e de todos ele chama de 'respeito'. E sabendo perceber e valorizar a beleza e riqueza tanto da natureza quanto da humanidade, como também de si mesmo, faz dessa conexão que percebe entre seu 'eu' e o 'tudo'/'todo' sua maior espiritualidade. Permite-se, assim, transcender os limites materiais, deixando sua alma mais liberta para experiências extracorporais ou extrasensoriais. Igualmente, sente no contato com o outro e na aproximação de sua alma com outra uma experiência de riqueza inestimável e, humildemente, lembrando-se de todos os caminhos que percorreu para adquirir a sempre incompleta e passível de evolução consciência de si, procura auxiliar os que o rodeiam a também questionarem-se e conhecerem-se, descobrindo os tesouros interiores, os quais, sendo tão e unicamente pessoais, são inalienáveis. Certamente que, sendo ele tão imperfeito quanto seus iguais, possui dificuldades em ajudar ou simplesmente acompanhar os que o cercam n´uma jornada através da consciência e do autoconhecimento. Mas a primeira lição ou idéia que tenta transmitir é que a única autoridade verdadeira é a de sua consciência sobre suas ações e seu desenvolvimento espiritual, que não há nenhuma autoridade exterior verdadeira e que as forças que tentam se vestir do vel dea'autoridade' são de fato 'ilusões' e/ou formas de opressão e violência. Por quê? Porque se autoconhecendo, percebemos que superior às idiossincrasias, os seres humanos e todos os seres vivos possuem uma igualdade de valor que coloca-os lado a lado, não sendo a abelha menos importante que o cão nem uma formiga menos importante que o ser humano, pois todos os seres compartilham a imperfeição e a jornada pela evolução espiritual somente possível através do aprendizado fruto da própria reflexão e da experiência com os demais, sejam homens/mulheres ou quaisquer outros seres vivos. Cada um de nós possui ensinamos inestimáveis e também necessita de todos os ensinamentos que os outros possam dar, desde que sejam lições de sinceridade, verdade e sabedoria, não dependendo isto de qualquer distinção social imaginária como as existentes nos sociedades humanas que perduram até hoje. Para que qualquer 'autoridade' externa (toda ela sendo falsa) possa de fato influir sobre a vida, as decisões e o pensamento de outrem, é necessário que este não tenha consciência de si, para então, sentir-se vazio o suficiente para permitir que uma decisão que não foi sua encaminhe suas ações. E somente quando os seres humanos, desconhecendo-se a si mesmos, seu valor e, consequentemente o valor de todos, o que pode ser denominado puramente de respeito, é que eles precisam se apegar à doutrinas e sistemas de valores (religiões) que os obrigam a tomar atitudes que não passam de mecanizações do espírito, aprisionando-o em preceitos fabricados e estáticos, enquanto a verdadeira sabedoria é dinâmica, crescente, criativa e autoconsciente.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Você não tem o direito de não se importar com os que estão morrendo...


Os lugares mais quentes do inferno são destinados aos que, em tempos de graves crises, mantêm-se neutros.

Dante Alighieri

terça-feira, 16 de junho de 2009

Nunca diga - isso é natural - para que nada passe a ser imutável.


Nós vos pedimos com insistência:
Nunca digam - Isso é natural -
diante dos acontecimentos de cada dia.
Numa época em que reina a confusão,
em que escorre o sangue,
em que se ordena a desordem,
em que o arbítrio tem força de lei,
em que a humanidade se desumaniza....
Não digam nunca - Isso é natural! -
Para que nada passe a ser imutável.

Eu peço com insistência
Não diga nunca - Isso é natural -

Sob o familiar,
Descubra o insólito,
Sob o cotidiano, desvele o inexplicável.

Que tudo o que é considerado habitual
Provoque inquietação,
Na regra, descubra o abuso,
E sempre que o abuso for encontrado,
Encontre o remédio.


Bertolt Brecht



Se alguém diz que nada pode ser feito, "sempre foi assim e sempre será", que não adianta mexer um dedo para mudar, podes ter certeza, você "alguém", que você é tão responsável pelo crime quanto os criminosos, porque cada vez que proferes tais palavras, você aperta a corda da forca da injustiça, ao invés de roê-la e cortá-la, cada vez que se negas a mover-se rumo à mudança, à humanização, à humanidade, à paz, ao outro, és tão responsável e o sangue corre por suas mãos, ou melhor, por sua boca e coração, que se negaram a dizer uma palavra de protesto e a sentir uma gota de revolta.
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Mas eu continuo pedindo com insistência - Nunca diga que "sempre foi" e, principalmente, "sempre será". Porque só será enquanto quisermos, e se assim é, é porque ainda queremos.

.
Que não permitamos mais que em nosso querer se encontre a injustiça, a violência e a morte, o egoísmo, a ganância e a vaidade, a indiferença, a passividade, o silêncio.







"Ver um crime com calma, é cometê-lo"

José Martí

Mas ai já era tarde...

Primeiro levaram os negros,
Mas não me importei com isso,
Eu não era negro.

Em seguida levaram alguns operários,
Mas não me importei com isso,
Eu também não era operário.

Depois prenderam os miseráveis,
Mas não me importei com isso,
Porque eu não sou miserável.

Depois agarraram uns desempregados,
Mas como tenho meu emprego,
Também não me importei.

Agora estão me levando.
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém,
Ninguém se importa comigo.

Bertolt Brecht






E indiferentes, sozinhos, estamos indefesos ante os desmandos, as violências, os arbítrios... ninguém poderá se importar conosco... terão todos sido levados, arrastados... cada vez mais sozinhos... Como ficará este mundo? Até quando se manterá a "ordem" (que esconde o caos social)? Será que a mesma polícia que oprime os mais fracos, os pobres, os insurgentes, não se voltará contra você, quando você não estiver mais satisfeito?...

Você está realmente satisfeito com nossa realidade? Você consegue passar por um miserável e se sentir satisfeito? Tua vida te satisfaz? Teus sonhos te satisfazem? Teus amores, tuas experiências têm algum sentido quando contrastadas com a violência, o sangue e a crueldade do mundo?...

Quando nos levarem, já será tarde.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Acordando


"Visão sem ação não passa de um sonho.
..Ação sem visão é só um passatempo.
..Visão com ação pode mudar o mundo"

Barker

segunda-feira, 25 de maio de 2009

É o amor...


Canção

O peso do mundo
.....é o amor.
Sob o fardo
.....da solidão,

sob o fardo
.....da insatisfação.

.....o peso
o peso que carregamos
.....é o amor.

Quem poderia negá-lo?
.....Em sonhos
nos toca
.....o corpo,
em pensamentos
.....constrói
um milagre,
.....na imaginação
aflige-se
.....até tornar-se
huamano -

sai para fora do coração
.....ardendo de pureza -
pois o fardo da vida
.....é o amor,

mas nós carregamos o peso
.....cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
.....finalmente
temos que descansar nos braços
.....do amor.

Nenhum descanso
.....sem amor,
nenhum sono
.....sem sonhos
de amor -
.....quer seteja louco ou frio,
obcecado por anjos
.....ou por máquinas,
o último desejo
.....é o amor
- não pode ser amargo
.....não pode ser negado
não pode ser contido
.....quando negado:

o peso é demasiado.

- deve dar-se
sem nada de volta
.....assim como o pensamento
é dado
.....na solidão
em toda a excelência
.....do seu excesso.

Os corpos quentes
.....brilham juntos
na escuridão,
.....a mão se move
para o centro
.....da carne,
a pele treme
.....na felicidade
e a alma sobe
.....feliz até o olho -

sim, sim
.....é isso que
eu queria,
.....eu sempre quis,
eu sempre quis
.....voltar
ao corpo
.....em que nasci.

Allen Ginsberg

Montanhas russas reunidas em círculos...


Profecias...
Montanhas russas reunidas em círculos


Montanhas russas reunidas em círculos
Rodopiando em discussões extensas
Um cotidiano nada rotineiro
Aprisiona e liberta em horários e exaustões...

E o estar presente quase incomoda
O sentimento de dever borbulha nos ouvidos
As ações são impulsionadas por princípios
Que não cansam nem esmorecem
Ainda que o corpo deseje a inércia...

Claro, óbvio e inegável é
Que tal desejo absurdo
É meramente provisório, tempos de açúcar
Quando os encontros sobrepõem-se aos pensamentos
E as tempestades nos pegam sem varandas ou tetos.

Suspiro, retomando o ar deixado na última sala,
O fôlego ansioso por um balanço tranquilo.
Acontece que lá fora não parece haver trégua
Pois são máquinas as forças contrárias e malévolas...

Não suam, não dormem e não se intimidam
Ante o infinito amor que temos.
E esse amor, mesmo infinito,
Não sendo como eles, violento,
Não pode simplesmente detê-los,
precisa apaixoná-los...

Mas quem?
Que paixões? Rumo à que corações?
Quem pode dizer... quem pode ser...
São tantos, são invisíveis e constantes... são inimigos e futuros de esperança...
Porque se nossa força é o amor
E a força contrária o oposto (mas não totalmente, espero)
Não podemos ser como eles, pois perderemos...
Queremos (eu e quem mais?) que eles
Se apaixonem
E não que morram (só em momentos de ira).

Sim, sim, que enigma metálico enferrujado
Que incrustado de conchas em portos abandonados
Que eras trepadeiras em muros desmoronando...
Que irrespostas desconexas e sem nexo...

Acontece que por maior que seja a loucura do mundo
E a nossa, diante de tudo
Só não podemos parar.
Mas a natureza não diz que não podemos cansar.
Ao contrário, como cansa.

E nisso, do alto da montanha russa
Aquele frio estomacal tremula
E irrompe poros afora...
Suamos, frio.

Há calor também. Muito. É o próprio amor.
Uma total dicotomia paradoxal de estrelas que se chocam.
Sem uma lógica matemática exata e concisa...
Apenas a continuação interminável de utopias delirantes
Que perseguimos convictos da vitória da vida!

Numa militância que atravessa as madrugadas
Na ânsia milimétrica de invernos e primaveras
Tornados esfumaçados, tosses e desgastes
Visões em preto e branco de plástico
E odores bons e ruins...


Enfim.

É isso.

Então.

E ai?

O que resta é descansar na agitação

Agitar o cansaço

E seguir em frente, aberto para o abraço

Beijando todo o espaço

Tudo que há e é.

Carregando o amor não como um fardo

Nem a esperança como uma pedra entalada na garganta

Mas como asas, únicas formas de salvar-nos

Do abismo que se despedaça sob nossos pés

E nossas mãos

E nossas vidas


Para sermos verdadeiramente

E profundamente

De maneira completa

Plena

E apaixonada.


Explodiremos, é fato.

A explosão será indescritível, indiscriminada

Levará a todos.

Todos se perderão, mas já estavam perdidos.

Mas nos encontraremos, mais ainda

Todos serão finalmente apaixonados

Depois da explosão.

Depois que as paredes todas forem derrubadas

E as portas da alma arrombadas

Permitindo a união inimaginável

A Comunhão da Vida em uma só.


Fim. Início. Infinito. Círculo. Comum...(ismo).


Não será através da força

Mas do amor.

A revolta será espiritual

E as chamas arderão nas almas

Os gritos brotarão do espírito

E as mãos andarão dadas

Pés juntos, passos largos.


Desmoronarão de suas torres

Dos altos edifícios

Dos terraços rarefeitos

Das alturas da tolice

Do topo dos egoísmos

Do alto das ganâncias

Até o fundo do poço

De onde poderão ressurgir iguais

Horizontais

Humanos, reais

Sem autoridades

Sem banalidades

Sem formalidades

Sem burocracias

Sem hipertrofias

Sem infantarias

E sem ódio.


Quando o “mundo” cair,

Quem ainda houver

Terá a nova chance

De nascer.


Quando o “civilizado” ruir

Quem ainda houver

Terá a nova chance

De pensar.


Quando o “sistema” se destruir

Os que ainda houver

Terão a nova chance

De se unirem.


Quando o “muro” for derrubado

Os que ainda houver

Terão finalmente a chance

De se amarem.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Dispensado por motivo de consciência!

(A única função do exército é monopolizar - junto à polícia - a violência e assassinar quando necessário! - Abaixo ao serviço militar! Boicote às Forças Armadas, assassinos e opressores! A Autoridade do Estado é imposta à custo de nossoas vidas ameaçadas. Ninguém tem esse direito e precisamos impedi-los!)



Caio Maniero D’Auria é um enxadrista. Calculista. Paciente.
Insistente. Irritante, até. Graças a essas características, tornou-se,
aos 22 anos, o primeiro brasileiro dispensado do serviço militar
obrigatório por “razões políticas e filosóficas”. Na prática,
significa que ele foi dispensado sem nem precisar jurar à bandeira.
Para muitos, a formalidade é apenas um detalhe. Para ele, uma batalha
de quase cinco anos de duração em defesa da “liberdade”.

Todos os anos 1,6 milhão de jovens alistam-se e cerca de 100 mil são
incorporados ao Exército, à Marinha ou à Aeronáutica (em 2008 foram 80
mil), segundo o Ministério da Defesa. Desses, 95% declararam no
alistamento desejo de servir. Os que não queriam, foram convocados por
ter alguma habilidade necessária à unidade militar da região. “A
Estratégia Nacional de Defesa pretende alterar esse quadro, de modo a
que o serviço militar seja efetivamente obrigatório, e passe a
refletir o perfil social e geográfico da sociedade brasileira”,
anuncia o Ministério da Defesa, sem dar detalhes de como isso será
feito.

Por ora, a única exigência feita para os dispensados é uma pastosa
cerimônia de Juramento à Bandeira, tão esvaziada quanto a obrigação de
executar o Hino Nacional antes das partidas de futebol em São Paulo.
Ninguém reclama. Caio recusou-se.

Determinado a encontrar um meio válido de não jurar à bandeira,
entranhou-se nas leis militares. Telefonou para o Comando Militar do
Sudeste e soube que podia pedir para prestar um serviço alternativo e
que, por não haver convênio firmado, isso resultava na dispensa
automática. “Mas a secretária da Junta Militar me falou que só
Testemunhas de Jeová podiam alegar objeção de consciência. Ela me
mandou jurar à bandeira, mas eu estaria mentindo se jurasse dar a vida
pela nação, pois jamais faria isso”, diz, com um sorriso tímido de
quem mal deixou a adolescência.

De próprio punho, Caio redigiu uma “declaração de imperativo de
consciência”, e declarou-se anarquista. A Junta Militar exigiu a
declaração de uma associação anarquista confirmando o vínculo. Caio,
então, contatou mais de vinte organizações em busca de, como diz, uma
“carta de alforria”. Perdeu um ano nessa. “Os anarquistas brasileiros
não tiveram a coragem de colocar em prática o que tanto pregam. A
maioria está mais interessada em festinhas”, reclama. E pondera: “Acho
que eles tiveram medo de ser fichados pelo Exército”.

Desiludido, encontrou na internet a organização Movimento Humanista.
Enfim, sentiu que seria atendido. “Pregamos a não-violência e somos
contra o serviço militar obrigatório”, diz Paulo Genovese, coordenador
do grupo, que faz reuniões semanais e promove a Marcha Mundial pela
Paz e pela Não-Violência.

Diante de nova declaração de objeção de consciência, a Junta pediu
dados dos integrantes e o CNPJ da organização. Três meses depois, foi
preciso detalhar quais eram as incompatibilidades do movimento com o
serviço militar.

Era janeiro de 2008. “Passei noites em claro redigindo. Fui
pessoalmente entregar”, diz, satisfeito. Sustentou que os humanistas
colocam “o ser humano como valor central”, enquanto os militares devem
defender a pátria “mesmo com o sacrifício da própria vida”. E que o
“repúdio à violência” é incompatível com o “amor à profissão das armas”.

Quatro anos e oito meses após se alistar, Caio pegou seu Certificado
de Dispensa do Serviço Alternativo. Em 2008, apenas seis jovens foram
eximidos por objeção de consciência. Nos últimos cinco anos, 232. Mas
Caio foi pioneiro. “Nunca motivos políticos livraram alguém, o meu
processo é o número 001/08. Abri um precedente e agora tenho onde
lutar por minha liberdade e pela dos demais”, comemora ele, que é
analista de dados de telemarketing. Há anos quer prestar concurso
público. Agora pode.

quinta-feira, 5 de março de 2009

As 5 dificuldades em escrever a verdade - parte 1 - Bertolt Brecht


"Num momento em que generalidades e obviedades são ditas com ares de gravidade, de denúncia séria; em que os meios de comunicação das classes dominantes procuram reescrever sua própria estória, assumindo ares progressistas e de atenção às mazelas que afligem as camadas mais pobres da população; num momento em que alguns aparentam preocupação com o estado de coisas, com a barbárie, que o capitalismo, o imperialismo engendra no país e no mundo – e tudo isso fazem sem que permitam que se reconheçam suas causas evitáveis e como superá-las, é muito oportuno e estimulante o texto de Brecht."


As cinco dificuldades para escrever a verdade
Bertold Brecht


Hoje, o escritor que deseje combater a mentira e a ignorância tem de lutar, pelo menos, contra cinco dificuldades. É-lhe necessária a coragem de dizer a verdade, numa altura em que por toda a parte se empenham em sufocá-la; a inteligência de a reconhecer, quando por toda a parte a ocultam; a arte de a tornar manejável como uma arma; o discernimento suficiente para escolher aqueles em cujas mãos ela se tornará eficaz; finalmente, precisa de ter habilidade para difundir entre eles. Estas dificuldades são grandes para os que escrevem sob o jugo do fascismo; aqueles que fugiram ou foram expulsos também sentem o peso delas; e até os que escrevem num regime de liberdades burguesas não estão livres da sua ação.


1- A CORAGEM DE DIZER A VERDADE


É evidente que o escritor deve dizer a verdade, não a calar nem a abafar, e nada escrever contra ela. É sua obrigação evitar rebaixar-se diante dos poderosos, não enganar os fracos, naturalmente, assim como resistir à tentação do lucro que advém de enganar os fracos. Desagradar aos que tudo possuem equivale a renunciar seja o que for. Renunciar ao salário do seu trabalho equivale por vezes a não poder trabalhar, e recusar ser célebre entre os poderosos é muitas vezes recusar qualquer espécie de celebridade.
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Para isso precisa-se de coragem. As épocas de extrema opressão costumam ser também aquelas em que os grandes e nobres temas estão na ordem do dia. Em tais épocas, quando o espírito de sacrifício é exaltado ruidosamente, precisa o escritor de muita coragem para tratar de temas tão mesquinhos e tão baixos como a alimentação dos trabalhadores e o seu alojamento.

Quando os camponeses são cobertos de honrarias e apontados como exemplo, é corajoso o escritor que fala da maquinaria agrícola e dos pastos baratos que aliviariam o tão exaltado trabalho dos campos. Quando todos os alto-falantes espalham aos quatro ventos que o ignorante vale mais do que o instruído, é preciso coragem para perguntar: vale mais por quê? Quando se fala de raças nobres e de raças inferiores, é corajoso o que pergunta se a fome, a ignorância e a guerra não produzem odiosas deformidades.
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É igualmente necessária coragem para se dizer a verdade a nosso próprio respeito, sobre os vencidos que somos. Muitos perseguidos perdem a faculdade de reconhecer as suas culpas. A perseguição parece-lhes uma monstruosa injustiça. Os perseguidores são maus, dado que perseguem, e eles, os perseguidos, são perseguidos por causa da sua virtude. Mas essa virtude foi esmagada, vencida, reduzida à impotência. Bem fraca virtude ela era! Má, inconsistente e pouco segura virtude, pois não é admissível aceitar a fraqueza da virtude como se aceita a umidade da chuva.
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É necessária coragem para dizer que os bons não foram vencidos por causa da sua virtude, mas antes por causa da sua fraqueza. A verdade deve ser mostrada na sua luta com a mentira e nunca apresentada como algo de sublime, de ambíguo e de geral; este estilo de falar dela convém justamente à mentira. Quando se afirma que alguém disse a verdade é porque houve outros, vários, muitos ou um só, que disseram outra coisa, mentiras ou generalidades, mas aquele disse a verdade, falou em algo de prático, concreto, impossível de negar, disse a única coisa que era preciso dizer.
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Não se carece de muita coragem para deplorar em termos gerais a corrupção do mundo e para falar num tom ameaçador, nos lugares onde a coisa ainda é permitida, da desforra do Espírito. Muitos simulam a bravura como se os canhões estivessem apontados sobre eles; a verdade é que apenas servem de mira a binóculos de teatro.
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Os seus gritos atiram algumas vagas e generalizadas reivindicações, à face dum mundo onde as pessoas inofensivas são estimadas. Reclamam em termos gerais uma justiça para a qual nada contribuem, apelam pela liberdade de receber a sua parte dum espólio que sempre têm partilhado com eles. Para esses, a verdade tem de soar bem. Se nela só há aridez, números e fatos, se para a encontrar forem precisos estudos e muito esforço, então essa verdade não é para eles, não possui a seus olhos nada de exaltante.
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Da verdade, só lhes interessa o comportamento exterior que permite clamar por ela. A sua grande desgraça é não possuírem a mínima noção dela.

As 5 dificuldades em escrever a verdade - parte 2 - Bertolt Brecht


2- A INTELIGÊNCIA DE RECONHECER A VERDADE

Como é difícil dizer a verdade, já que por toda a parte a sufocam, dizê-la ou não parece à maioria uma simples questão de honestidade. Muitas pessoas pensam que quem diz a verdade só precisa de coragem. Esquecem a segunda dificuldade, a que consiste em descobri-la. Não se pode dizer que seja fácil encontrar a verdade.

Em primeiro lugar, já não é fácil descobrir qual verdade merece ser dita. Hoje, por exemplo, as grandes nações civilizadas vão soçobrando uma após outra na pior das barbáries diante dos olhos pasmados do universo.

Acresce ainda o facto de todos sabermos que a guerra interna, dispondo dos meios mais horríveis, pode transformar-se dum momento para o outro numa guerra exterior que só deixará um montão de escombros no sitio onde outrora havia o nosso continente. Esta é uma verdade que não admite dúvidas, mas é claro que existem outras verdades.

Por exemplo: não é falso que as cadeiras sirvam para a gente se sentar e que a chuva caia de cima para baixo. Muitos poetas escrevem verdades deste gênero. Assemelham-se a pintores que esboçassem naturezas mortas a bordo dum navio em risco de naufragar. A primeira dificuldade de que falamos não existe para eles, e contudo têm a consciência tranquila. "Esgalham" o quadro num desprezo soberano pelos poderosos, mas também sem se deixarem impressionar pelos gritos das vítimas.

O absurdo do seu comportamento engendra neles um "profundo" pessimismo que se vende bem; os outros é que têm motivos para se sentirem pessimistas ao verem o modo como esses mestres se vendem. Já nem sequer é fácil reconhecer que as suas verdades dizem respeito ao destino das cadeiras e ao sentido da chuva: essas verdades soam normalmente de outra maneira, como se estivessem relacionadas com coisas essenciais, pois o trabalho do artista consiste justamente em dar um ar de importância aos temas de que trata.

Só olhando os quadros de muito perto é que podemos discernir a simplicidade do que dizem: "Uma cadeira é uma cadeira" e "Ninguém pode impedir a chuva de cair de cima para baixo". As pessoas não encontram ali a verdade que merece a pena ser dita. Alguns se consagram verdadeiramente às tarefas mais urgentes, sem medo aos poderosos ou á pobreza, e, no entanto não conseguem encontrar a verdade. Faltam-lhe conhecimentos. As velhas superstições não os largam, assim como os preconceitos ilustres que o passado frequentemente revestiu de uma forma bela. Acham o mundo complicado em demasia, não conhecem os dados nem distinguem as relações.

A honestidade não basta; são precisos conhecimentos que se podem adquirir e métodos que se podem aprender. Todos os que escrevem sobre as complicações desta época e sobre as transformações que nela ocorrem necessitam de conhecer a dialética materialista, a economia e a história. Estes conhecimentos podem adquirir-se nos livros e através da aprendizagem prática, por mínima que seja a vontade necessária. Muitas verdades podem ser encontradas com a ajuda de meios bastante simples, através de fragmentos de verdades ou dos dados que conduzem à sua descoberta.

Quando se quer procurar, é conveniente ter-se um método, mas também se pode encontrar sem método e até sem procura. Contudo, através dos diversos modos como o acaso se exprime, não se pode esperar a representação da verdade que permita aos homens saber como devem agir. As pessoas que só se empenham em anotar os fatos insignificantes são incapazes de tornar manejáveis as coisas deste mundo. O objetivo da verdade é uno e indivisível. As pessoas que apenas são capazes de dizer generalidades sobre a verdade não estão à altura dessa obrigação.

Se alguém está pronto a dizer a verdade e é capaz de a reconhecer, ainda tem de vencer três dificuldades.