quarta-feira, 5 de março de 2008

Solidariedade, Amor, Fraternidade - A maior liberdade!

Desobrigação... Terra da Obediência... e a Solidariedade

Motivação hoje em dia é tema de tantas palestras e livros, palcos e editoras afora. Muitas pessoas vivem suas vidas na constante desanimação da rotina a qual elas acreditam serem forçadas, delegam seus caminhos à obrigatoriedade da sobrevivência, dos horários e prazos, da mecanicidade moderna, ignoram qualquer motivo maior, interior, próprio, para desempenharem suas funções, e diversas vezes desconhecem o que existe nelas além da ‘função’ que lhes foi atribuída. São engrenagens vivas que não lubrificam sua força motriz, suas almas, e acabam desestimuladas em seus trabalhos burocráticos, às vezes repetitivos. Acomodam-se.

A produtividade cai, e os mecânicos dessas engrenagens humanas, os gestores, empresários, precisam recorrer a essas técnicas de motivação. É preciso criar forças externas que ‘motivem’ as pessoas, que lhes seja combustível para suas tarefas.

Por motivação, interpreto o entendimento dos motivos que nos movem. Mas vivemos numa realidade onde o principal ‘motivo’ é o retorno financeiro, os bens materiais que podem ser comprados, os prazeres que podem ser comprados. Tantos passam a vida inteira movidos por este objetivo, mas são esses mesmos os que precisarão de um impulso externo para acordarem todos os dias para trabalhar. Podem ser as contas para vencer esse impulso que os empurra, ou um supervisor cobrando resultados, mas sempre são obrigações às quais não gostariam de se submeter. E assim, criou-se a ‘salvação’ da aposentadoria.

Na Idade Média, todos os pesares e sofrimentos, provações e sacrifícios se justificavam pela promessa do paraíso após a morte, na Modernidade, criou-se a esperança de melhoras na aposentadoria após os anos de trabalho obrigatório. Já vi jovens imbuídos do pensamento de que quanto antes começassem a trabalhar, antes se aposentariam.

Há também a criação antiga do fim de semana, um dia ou dois que foram criados para não esquecermos como é poder escolher como será hoje, sem as correntes do cotidiano. Trágico é perceber que alguns, tão acostumados que estão a essa obrigação que lhes diz o que fazer, defronte à limitada liberdade concedida pelo fim de semana, vêem-se sem saber para onde ir, como agir, e acabam refugiando-se em uma nova rotina, ou buscando entorpecentes como bebidas, jogatina (reprodução de suas atividades repetitivas) e contato social com iguais em busca de fazerem o tempo passar.

Essa atitude padronizada é criada logo cedo, quando as crianças passam a ver na obrigação de ir para dentro daquele prédio decorar informações, algo maçante, diverso da adorável vida estática que aguarda em frente à TV, ou da dinâmica das brincadeiras infantis. A adolescência chega e além da programação televisiva, soma-se a fuga para realidades artificiais dos shoppings e festas, recanto dos jovens que bóiam sem direção, ou dos esportes de massa, realidades virtuais. A escola é apenas a obrigação levada adiante com desprazer, repetição de informações nunca aplicados para o bem-estar. Pouco muda quando entram esses jovens no mundo do trabalho, permanece a atitude de obediência perante a ‘única’ realidade, onde o trabalho é a obrigação penosa que antecede o ‘paraíso’.
E voltamos ao dilema do desestímulo crônico, problema constante, e ao mundo dos palestrantes sorridentes cheios de fórmulas e dos livros de auto-ajuda, soluções práticas num contexto que exige remédios instantâneos.

Depois dessas ligeiras reflexões, gostaria de tratar d´outra questão, a solidariedade. Porque esse sentimento, valor, princípio, seja o que for, não é lá o mais comum entre as pessoas. O que em boa parte se explica pela simples razão de que a solidariedade não cabe neste mundo de obediência, repetição, indiferença e entorpecimento. Onde caberá o amor ao próximo n´um coração preocupado com ocupar com algum ‘nada’ um restante de tempo que deixou sobrar a obrigação, tratar o vazio interior com algum remédio que nos permita esquecê-lo, ignorá-lo?

Durante toda nossa vida nos oferecem inutilidades, sejam aquelas que desgostamos, ou aquelas que nos ensinam a gostar, ou seja, as obrigações e as distrações. Como perceber a utilidade do amor fraterno, se desconhecemos qualquer coisa útil, além daquelas as quais cultuamos obedientes? Estamos ocupados demais com os diversos cultos modernos, culto à saúde, à independência financeira, ao lazer, ‘utilidades’ hipertrofiadas, transformadas na vaidade cega da ‘perfeição física’, na ânsia incessante pela riqueza, no afogamento no prazer.

Algo tão desobrigado, espontâneo, verdadeiro como o amor ao próximo, torna-se como sentimento deslocado na Terra da Obediência. Pouquíssimos patrões do Capital andam por ai obrigando seus funcionários à trabalhos sociais, e menos ainda se preocupam em organizar um trabalho tal que concretize mudanças, que aproxime realmente as pessoas, tanto as ajudadas quanto as que ajudam. Criou-se há incontáveis anos atrás a tal da 'Filantropia da Riqueza'. Doações impessoais, vazias, sem contato humano, sem carinho, sem amizade, sem amor. Meras doações para suprir alguma necessidade fisiológica como a fome ou a higiene, nada restando para as necessidades emocionais, do coração e da alma, o companheirismo, a amizade, a união, a solidariedade, o calor humano.

Pior ainda, já não bastasse esta abominável falsa-caridade da Doação Indiferente, ainda surgiu a ‘moda’ da Responsabilidade Social como forma de Publicidade. Ajudar ao próximo agora gera aumento de vendas, aumento do lucro, aumento do consumo, da boa-imagem empresarial. O objetivo que era ajudar, transformou-se em investimento publicitário, e passou a ser apenas mais um meio de promoção mercadológica. Mercantilizamos a ‘solidariedade’, virou item na folha de ‘custos’, investimento lucrativo, economia da indiferença, grotesca inversão de valores!

Que ‘bela’ cultura esta moderna, uma cultura que celebra o ‘nada de novo’, porém disfarçado, maquiado pela erupção de ‘novidades mercadológicas’, escondendo a conservação do poder em mãos viciadas, pois este ‘nada’ não causa problemas, não questiona nem anseia por mudar as estruturas da injusta realidade.

Um ciclo que precisamos quebrar. Um ciclo que se quebra por si mesmo, pois torna tão insuportáveis e infelizes a vida de tantas almas andantes...

Mudemos. Sejamos amor próprio transbordando em infinito amor ao próximo.


“Amar é tudo o que importa!”

- Irmãos e irmãs, uma humanidade de amor e luz.

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